sexta-feira, 18 de setembro de 2009

ENCONTRÃO NA RUA DA PRAIA


Geraldo Potiguar do Nascimento

Eu e a Fabiana nos conhecemos através de um encontrão. Eu sei que é uma forma bastante esquisita de duas pessoas se conhecerem, mas foi. Um encontrão na Rua da Praia. Rua da praia, na realidade, é uma rua que não existe. É a rua mais famosa dos gaúchos, mas é uma rua que não existe. A Rua da Praia não existe desde o século dezenove. Apesar de sua "inexistência", todo gaúcho sabe onde é a Rua da Praia. E não só os gaúchos: por causa da "esquina democrática", que é a esquina da Rua dos Andradas com a Borges de Medeiros, essa rua é conhecida em todos os cantos do nosso país e até no exterior. Mesmo quem nunca veio aqui no Rio Grande do Sul já ouviu falar da "rua da praia".
Eu e a Fabiana tivemos ou cometemos um encontrão na Rua dos Andradas, nome oficial da rua da praia e em questão de minutos lá estávamos lado a lado em banquinhos, numa daquelas lancherias dalí da rua, dividindo um refrigerante,
apesar do frio do inverno, em bora os raios do sol insistissem em se manter clareando o dia, ou melhor: a tarde. A nossa tarde.
Minha mais nova amiga faz "História" na ULBRA (Universidade Luterana Brasileira - Canoas/RS), de Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre, é uma empresária de uma pequena empresa na área de comunicação e garante que por dever de ofício vai a Universidade de Passo Fundo participar da Décima Jornada Nacional de Literatura.
A nossa conversa gira por vários assuntos: rua da praia, como não podia faltar; democracia; Rio Grande do Sul; Brasil e o Nordeste, dentre outros, já que sou um nordestino "perdido" aqui nessas terras dos pampas. Falamos de outros assuntos e em seguida descambamos para temas interligados como: amor, sedução, traição e solidão. Observações não faltaram em nossa cavaquiação. Falamos da mídia, contamos piadas, lembramos como as piadas contadas, que também fazem parte da mídia, minimizam a importância da mulher no processo histórico de transformação da sociedade.
Lembramos as páginas e mais páginas que existem na internet fazendo "gracinhas" com as mulheres e... na continuação colocamos em evidência as "galhofas" que existem "contra" os homens transformando a nossa mídia numa verdadeira "guerra dos sexos". Pérolas como: "os homens são iguais a pão de forma ou pão de sanduíche, como queiram: são quadrados, fáceis de dobrar e se desmancham com facilidade". Ou aquela que diz que: "os homens são iguais caracois: pegajosos, gosmentos e acreditam que a casa é deles".
Apesar de estar conversando com uma futura historiadora, não falamos muito sobre a morte do diplomata Sérgio Vieira de Melo, assassinado no Iraque onde representava a ONU (Organização das Nações Unidas) e tentava normalizar a vida do povo no pós-guerra e as conseqüências desse acontecimento para a paz mundial. Não falamos sobre o interminável conflito árabes/judeus. Não comentamos sobre estes primeiros meses do Governo Lula, nem falamos da tentativa do ator Arnold Schwarzenegger em governar o estado da Califórnia.
Lembramos de Obirici(1), a lenda histórica da índia rejeitada que teve suas lágrimas transformadas em rios que terminam formando a baía do Guaíba que banha a cidade de Porto Alegre. Dessa lenda pulamos para um acontecimento real ocorrido na zona sul da capital dos gaúchos, ao lado do arroio Passo Fundo: "Gislene,negra linda, passista dos "Bambas",
namorava Dino, componente da bateria da mesma agremiação. Ao saber que o seu amado 'dividia' os seus prazeres com outra 'pretendente' tomou uma decisão: poria fim a tudo. Chico Dé, escoador de confiança da droga da região foi quem bancou o empréstimo do trabuco".
Na hora indicada, porta do colégio, lá estava Dino e Claudia, conhecida "de vista" de Gislene trocando ósculos e amplexos". "Dois estampidos chamaram a atenção dos transeuntes que não observavam, até aquele momento, a balbúrdia, tão comum na saída dos discentes. "Dois tiros. Dois mortos: Dino de vinte e um anos e Claudia de dezesseis".
O desespero estava estampado nos olhos de Gislene. Seu amor havia morrido; e pelas mãos dela. Sera ainda julgada por outro crime premeditado e executado. Não resistiu a pressão interna. Seus neurônios não a deixaram em paz. Várias opções foram sugeridas por parentes e amigos: mudança de endereço, indo viver com uma tia numa pequena cidade do interior; entrar no Movimento dos Sem Terra; trabalhar como palhaça, trapezista ou qualquer outra modalidade num circo mambembe e outros. Seu pai, separado de sua mãe, entrou na história. Sugeriu uma saída honrosa se é que para uma situação como esta a opção é válida.
A idéia do velho seria procurar um bom advogado e se entregar na primeira hora. Ré primária, com bom comportamento, atenuantes, etc, cumpriria no máximo um terço da pena o que poderia, com sursis, ficar em liberdade cumprindo apenas formalidades de apoio comunitário.
Gislene resistiu. Resistiu a todas as opções e pressões. Mas como dizem os mais velhos: "do destino não se foge".
Quem saiu naquele fatídico dia de agosto encontrou o corpo de uma bela jovem, gestante, de dezoito anos dentro do Arroio Passo Fundo. Seu sangue verteu à vontade e seguiu o rumo do arroio transformando as, normalmente claras, águas da baía do Guaíba.
Fabiana pensa. Franze a testa. Arruma os cabelos de cachinhos castanhos e pintura descolorando descobrindo o preto do natural. Comenta a lenda de Obirici (a índia). Pensa mais um pouco e por fim, volta ao diálogo. Fala das fatalidades dos dias de hoje e da desvalorização da vida. Comenta a "rigidez" no pensar dos adolescentes. O conservadorismo na "educação dirigida aos homens" e muitos outros assuntos que passam muitas vezes longe do "saber acadêmico".
O Encontrão na Rua da Praia... ou será Rua dos Andradas? Ou as duas cognominações valem ? Os assuntos variados, as piadas, a lenda de Obirici e a cruel realidade principalmente das periferias das grandes cidades deixaram a minha mais nova amiga meio atordoada. Adolescente, vinte e dois anos, acadêmica, segue Fabiana sem entender, o quanto gostaria, o nosso mundo. No seu íntimo, desejava que fosse diferente. Que o amor fosse a chave de tudo, afinal, o amor é lindo. E fácil. É muito fácil amar. Assim como um encontrão na rua da praia.

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(1)As lágrimas de Obirici

A origem dos nomes das maiorias dos bairros que formam a capital gaúcha se perde no tempo. Em muitos casos já nem há vestígios dos elementos que serviram para que recebessem a denominação pela qual são identificados até os dias de hoje. è assim com o passo da Areia, tradicional bairro localizado na zona norte de Porto Alegre. A areia já se foi há muito tempo. Aquela área da cidade está toda urbanizada. O passo, até resistiu, mas não faz muito tempo também deixou de existir. Antigamente, quando índios ainda habitavam a região, era um riachinho chamado por eles de Ibicuiretã, que significa " rio de areia ", " água que corre sobre pó " ou ainda " passo da areia ". Brotava na baixada da Boa Vista e seu leito sinuoso passava pelo meio da areal.
Com a urbanização, o passo foi canalizado e virou um valão. Suas águas tornaram-se sujas e barrentas e atravessavam o bairro espalhando mau cheiro. Com certo alívio, os moradores locais viram o córrego ser aterrado no início dos anos 80, quando ali começou a construção de um shopping center.
Apesar deste fim um tanto melancólico, a origem do Ibicuiretã está ligada a uma linda história de amor. Quando um homem branco sequer tinha pisado naqueles areais, ali se instalara uma tribo tapi-mirim, da nação dos tapes. Espremidos entre o Guaíba e morros, volta e meia precisavam defender sua taba com paus, pedras, lanças, arco e flecha de ataques de tribos inimigas. Os tapi-mirins viviam em permanente alerta.
E como não tinham cacique, eram comandados por um chefe guerreiro. Se esse chefe adoecia, envelhecia ou morria, cabia ao conselho de anciãos escolher um novo líder para as batalhas que viriam.
Depois de eleito, o chefe, geralmente jovem e solteiro, começava a despertar a
atenção das índias solteiras. Aquele que até outro dia era apenas mais um entre os seus, se convertia em um abençoado de Tupã, um escolhido dos deuses. E, assim, suscitava uma disputa entre as donzelas da aldeia. Todas passavam a usar seus enfeites mais bonitos, suas tintas mais coloridas, seus perfumes mais cheirosos. Tudo para conquistar o coração do agora poderoso guerreiro. Mas com Obirici, uma linda jovem daquela tribo, os sentimentos não funcionavam deste jeito. Desde curumim ela nutria amor por um único índio.
Nunca havia confessado sua paixão, no entanto. Amava em segredo, em silêncio, sozinha.
Quis o destino que o índio por quem ela era apaixonada fosse escolhido o chefe
guerreiro dos tupi-mirins. Obirici pensou, então, que chegara o momento para se declarar:
- Grande chefe, estou aqui para dizer que te amo. Quero ser tua esposa, passar a vida ao teu lado.
- Tu és a única a declarar amor por mim, Obirici.
- Outra índia se apresentou como tua pretendente ?
- Sim, ela diz me amar como ninguém mais me amaria.
- Mas eu te amo tanto quanto ela, mais até. E desde sempre. Desde que soube o que era amar alguém ...
- Eu acredito, Obirici, mas estou indeciso.
Diante do tímido amor de sempre e da paixão repentina, o índio não soube o que fazer. Foram dias tristes para Obirici. Passou noites em claro, chorando, soluçando, odiando amar. Como o novo chefe não chegava a uma decisão, ele próprio pediu ao sábio conselho de anciãos estabelecesse uma solução para o impasse. Assim foi feito: as duas pretendentes disputariam um torneio de arco e flecha. A vencedora seria a mulher do chefe guerreiro.
No dia do desafio, toda a tribo reuniu-se para assistir o grande acontecimento. Nunca a disputa para ser a esposa do chefe tinha chegado tão longe. Muitos repararam que Obirici demonstrava estar muito nervosa, enquanto que a concorrente parecia ganhar confiança com toda aquela gente como assistência. Obirici transbordava insegurança. Tremia seu arco, tremia sua flecha, tremia seu braço, suas pernas, seu corpo todo. O mundo tremia em seu redor. Suas flechas atingiam o alvo sem muita convicção, como se tivessem desistido do vôo no meio do caminho.
A outra índia parecia mais afetiva ao arco e à flecha. Seus disparos eram precisos, fulminantes, certeiros. Cada flecha sua que acertava o alvo era como se acertasse também o coração de Obirici. Aos poucos sua vitória foi se tornando evidente. Perdeu Obirici. Perdeu a batalha, perdeu seu amado, perdeu a razão. Enclauzurada em sua oca, só fazia chorar. Não comia, não bebia, não dormia, quase esquecia até de respirar. No dia do casamento do homem que havia rejeitado seu amor, não aguentou de sofrimento. Saiu da aldeia correndo, em prantos, para longe, em direção a um ponto mais alto do areal.
Era noite de lua cheia, e para lua Obirici chorou. Era noite estrelada, e para as
estrelas Obirici chorou, uma lágrima para cada ponto brilhante do céu. Chorou tanto que sua face aos poucos foi se convertendo em lágrimas, seu corpo todo se
transformando, se desmanchando, se desfazendo. Obirici virou suas lágrimas, e suas lágrimas viraram um riacho, que foi fazendo seu caminho pela areia até chegar à aldeia. Primeiro assustados, depois consternados, os tapi-mirins perceberam que o rio eram as lágrimas de sofrimento de Obirici. Chamaram o arroio de Ibicuiretã, e os açorianos quando aqui chegaram o rebatizaram de Passo da Areia, que deu nome ao bairro.
Não há mais areia, não há mais passo, mas Obirici ainda existe. Próximo ao viaduto que leva o seu nome e que se ergue sobre a avenida Assis Brasil, a índia está imortalizada em uma escultura, com os braços para o céu, pedindo um alento à Tupã.




Nota: Este texto sobre a lenda de Obirici foi tirado da internet. Há outros textos, poemas, crônicas sobre o assunto.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

A História Preconceituosa da Àfrica


Crítica ao livro:
"A África Está em Nós"
História e Cultura Afro-Brasileira
Primeiro Volume
Autor: Roberto Benjamim
(Roberto Emerson Câmara Benjamim)
Editora Grafset Ltda.

Infelizmente acabei de ler agora no mês de agosto/2006 o livro "A África Está em Nós" de Roberto Benjamim, publicado pela editora Grafset em 2004. Digo infelizmente porque gostaria de ter lido muito antes e é uma pena que somente agora chegou as minhas mãos. Esse livro até onde tenho conhecimento, por falta de outro, e não sei se o Ministério da Educação através de seus departamentos já adotou algum livro didático que sirva de baliza para execução na prática as determinações da Lei Federal, está sendo "adotado" por alguns professores, principalmente de História, cheios de boas intenções, para "orientar" os seus alunos com relação a História da África.

Achei oportuno o lançamento do livro. Acredito ter sido um dos primeiros livros, se não o primeiro de que tomo conhecimento de abordar o assunto com essa diversidade, logo após a publicação da Lei Federal 10.639/03. Fico surpreso com a bibliografia utilizada mas desagrada-me o resultado. Observo que a linguagem do professor Benjamim é eivada de preconceitos. Como militante do Movimento Negro e dos Direitos Humanos estamos acostumados; não estou querendo justificar que é algo bom e que tranqüilamente faz parte do nosso dia-à-dia já que com certeza também nos acostumamos a nos reservarmos e preservarmos dos acontecimentos que têm o intuito de nos maltratar. Isso que escrevo como costume poderia ser colocado como uma espécie de exército de reserva a semelhança de nossa defesa interna através dos anticorpos ou/e até a nossa defesa externa dos animais peçonhentos.

Já na página 20 do referido livro o autor, no "ponto 1.3 - Denominações afro-brasileiras", no item quarto, pela ordem, denominado EWE, decorre o texto escrevendo: EWE - 1. Povo da África Ocidental (que hoje habita o Benin, o Togo e Gana), de onde procederam escravos para o Brasil...". Parece-me que o autor, que também é advogado, com a sua linguagem "coloquial" de escritor, branco, conservador, racista e sem nenhum compromisso com a mudança; indigno de ser considerado parceiro já que temos inúmeros intelectuais brancos e de outras etnias que são verdadeiramente parceiros, não busca novos horizontes no universo da educação brasileira pregado pela "regulamentação da Lei Federal 10.639 de 09 de janeiro de 2003", através das "Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Etnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana" aprovado pelo Conselho Nacional de Educação em 10 de Março de 2004.

Na sua linguagem racista, preconceituosa e discriminatória, o autor usa a palavra escravo como adjetivo pátrio fazendo-se presumir que exista um país denominado "escravolândia" ou algo parecido. Benjamim segue a linguagem da maioria da imprensa e/ou de educadores diretos e indiretos liderada pelo Sistema Globo de Comunicação (vide discussão em torno de outro livro, o Não Somos Racistas de Ali Kamel, diretor executivo da Rede Globo), que planeja e põe no ar no seu jornal de maior audiência manchete como a que ouvimos a poucos dias passados: "Dia de festa para descendentes de escravos".

No livro inteiro o Senhor Benjamim nada faz para mudar essa linguagem racista, discriminatória e preconceituosa criada, difundida e conservada pelos seus antepassados, citando várias vezes que determinados países ou regiões da África era de onde vinham os "escravos". Linguagem essa que cada vez mais ajudam a perpetuar a imagem do negro subserviente e fraco e que pelo seu passado de descendente de "escravos" obviamente jamais poderá galgar altos postos neste país.

É necessário deixar nítido para o Sr. Benjamim e outros racistas de plantão que, se existe um povo descendente de "escravos!" existe também um povo descendente de escravisadores. Um povo que tratava outro povo como coisa, animal; que assassinava ao "bel prazer" aqueles seres que não correspondiam as suas (deles) expectativas; que estupravam as negras para encobrir fracassos sexuais de seus casamentos forjados assim como as doenças e/ou a frigidez de suas esposas. Este senhor acha que é isso que a escola brasileira deve continuar ensinando? É com base nessa educação, eurocêntrica, discriminatória, preconceituosa e racista que devemos abordar a história de nossos antepassados? Senhor Benjamim e demais seguidores, nós negros e negras não somos descendentes de escravos! Somos descendentes de africanos que por um determinado período fomos escravizados. A escravidão não nasceu com os negros e negras africanos (as) como o senhor com certeza é sabedor já que tem muito mais informações do que eu. Uma pessoa do quilate desse senhor quando intencionalmente escreve desta forma em um livro que se pretendia didático tem o objetivo claro (como os senhores adoram falar), de manter cada vez mais os negros e negras distantes de uma auto estima impedindo-os de uma libertação da consciência desse povo.

Nesse livro, ainda com relação a religiosidade do povo afro-brasileiro o autor não age como um cientista mas sim como uma pessoa mais uma vez preconceituosa e a serviço da igreja católica, como nos tempos da inquisição maldita. Distorce informações sobre as religiões de matriz africana, desinforma e colabora com o atraso para que os dados verídicos sobre as religiões trazidas de além mar não sejam difundidos de uma forma mais ampla.Na abordagem internacional o autor perdeu a oportunidade de informar aos leitores/alunos do seu livro como se deu a divisão do continente africano. Há na página 91 do supra citado um pequeno gráfico que "orienta" aos alunos/leitores e como bom descendente de colonizadores o autor foge dos fatos sem deixar nítidas as condições políticas e históricas em que e como que aconteceu a invasão do "continente negro".

Não é por falta de informações pois na relação bibliográfica colocada no final do livro, que presumo que o autor tenha lido, há inúmeros livros verdadeiramente documentais que colaboram para que se tenha uma gama de informações capazes de reforçar um relato científico de como aconteceu. Na abordagem nacional há desprezo da parte do autor por todas as batalhas de transformações e mudanças neste país onde negros e negras estiveram presentes junto com todas as etnias e em grande quantidade. Só para ilustrar esta afirmativa, neste livro não há nenhuma informação a respeito da participação nas luta do povo negro do sul do país nas revoluções e guerras acontecidas principalmente nos pampas gaúchos, a partir do Rio Grande do Sul, estados e países vizinhos com vastos relatos em livros e documentos publicados/divulgados no Brasil e fora dele.

O autor, Roberto Emerson Câmara Benjamim apesar de ter perdido a grande oportunidade de se passar como um parceiros nas lutas pela emancipação (de fato) do povo negro e seus descendentes, age como proxeneta da cultura negra por alguns caraminguás pois tenta a todo custo preservar as "conquistas" de seu povo que este sim, levam e levarão sempre a pecha de terem escravizado um povo que como está escrito também em seu livro (não foi possível nesse ponto mascarar a verdade), muitos deles, reis e rainhas; príncipes e princesas. Se nós somos descendentes de "escravos" como afirmam este senhor e os meios de comunicação do nosso país, os senhores são descendentes dos escravisadores, estupradores de negros e negras oriundas da África. Exterminadores de um povo. Provocadores do genocídio do povo negro.

Os negros e negras nunca concordaram com a sua condição de escravos e hoje nós os afro-brasileiros não concordamos de maneira nenhuma com a escravização de consciências impostas por pessoas que, paradas no tempo, acreditam ainda serem os nossos tutores dominando a mídia e os organismos de educação formal e/ou informal impondo seus ditames de forma "moderna" e oportunista através do compadrio, contubérnio, insensamento daqueles que ocupam o poder. Estamos e vamos continuar atentos.

GERALDO POTIGUAR DO NASCIMENTO é militante do movimento há mais de 30 anos. Em 1978 junto com outros militantes, organizou a partir de São Paulo o Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial – o MNU; em 1991 ajudou a fundar "oficialmente" a União de Negros pela Liberdade – UNEGRO; em 1992 organizou a “posse” de “hip hop” Identidade Negra na região da Vila Nova Cachoeirinha – Zona Norte de São Paulo. Há 5 anos Potiguar viaja por várias cidades do nosso país com a palestra/debate: “A Participação do Povo Negro na História do Brasil” e elabora o livro: “Tudo que Você gostaria de Perguntar sobre a Raça Negra e não tinha tido oportunidade”. Atua atualmente no AFRHUM - Instituto Pedagógico para o Crescimento, Fortalecimento e Valorização da Cultura, do Viver Afro-Brasileiro e os Direitos Humanos
Contatos: E mail's: geponas@gmail.com
kimbira@yahoo.com.br
AFRHUM - afrhum@gmail.com

segunda-feira, 29 de junho de 2009

O Corredor do Amor


Já ouvi falar de vários lugares onde se proclamam a terra do amor. Dizem que Paris é uma cidade que favorece este acontecimento. A torre Eiffel. A avenida Camps Eliseé. A avenida St Germain onde era possível encontrar Jean-Paul Sartre trocando carinhos apaixonados com a "sua" Simone de Beauvois dão o clima. Outros lembram do Rio de Janeiro com suas praias e ruas celebrizadas pelas estórias de amor das novelas.

As praias ou as cidades praianas no sul de Santa Catarina, principalmente no verão, se é que no verão dá pra se dar ênfase ao amor. Para os bons apreciadores dos romances amorosos o melhor momento para o amor é o inverno com chuvas. O tempo nublado e a névoa fazendo parte do cenário. Como dizia, as praias do sul catarinense ou as do nordeste do país são super cogitadas para uma estadia pelos casais apaixonados.

Há anos passados o bloco Olodum da Bahia depositou todas as honras a ilha de Madagascar, dando vivas a afrodisíaca ilha do amor. Isso pra quem pode. Virando os olhos para a África, lembro-me do Fernando I, "o rei destronado do Brasil" e agora colocado de volta no Congresso Nacional, que se aconchegou com a sua cara-metade de plantão, a Rosane, assim que foi eleito, nas ilhas Seicheles, um verdadeiro paraíso para o amor.

Tudo isso são viagens. Como observador dos costumes e da tradição do povo gaúcho, fico aqui em Porto Alegre. Fico mais precisamente na Rua da Praia. Essa rua é o grande guarda-chuva ou guarda-sombra para os dias de verão intenso. Considero a rua mais querida ou mais lembrada dos porto alegrenses. É o corredor do amor. Amor para todos os tipos. Todas as necessidades. Todos os gostos. Amor para chamego. Amor para as ninfetas. Amor para as mariposas dos dias e das noites. Amor à moda antiga. E por aí vai. É muito comum ver casais de namorados caminhando por essa via. As vezes saboreando um churrasquinho daqueles assados ali no carrinho da esquina. Degustando um churro, não sei porquê um hábito quase que unicamente feminino. Tomando um sorvete ou sentados às mesas que se proliferam a partir da praça da Alfândega em direção a prainha do Gasômetro.

As salas de cinema e/ou de teatro da Casa de Cultura Mário Quintana por sua seleção primorosa e diferenciada de filmes e peças atraem os jovens enamorados e muitos daqueles que fazem profissão de fé que o amor não tem idade. Um dia desses fui lá numa dessas salas assistir um dos filmes mais recentes do diretor italiano Bernardo Bertolucci: "Os Sonhadores" e... por um motivo qualquer, acenderam as luzes. Percebi que era o único solitário naquele recinto. Não me incomodei com tal situação: fui lá para conhecer um dos mais recentes trabalhos do mestre e apenas observei o detalhe.

O filme mostra o amor entre dois rapazes e uma garota. O cantado e decantado triângulo amoroso. Achei-o bom. Na saída dos casais, e como nós que escrevemos somos extremos observadores, parei os olhos na capa de um livro que uma das moças, que também estava acompanhada, transportava sob o braço. O título é: "Amestrando Orgasmos". Confesso que não li o tal escrito do jornalista Rui Castro. O transporte do mesmo ali na porta me confirma o título dessa crônica. Algo assim que poderia ser substituído por: "manual prático do amor". Espero que o tal livro tenha algo importante para ensinar e que o casal realmente aprenda.

No dia dos namorados agora passado as salas de cinemas programaram, dentre outros, dois filmes, um italiano e outro chinês. Ambos tinham amor no título e conseqüentemente no enredo. Da Itália veio: "Manual do Amor" e da China: "2046, Os Segredos do Amor. A "escalação" desses filmes são semelhantes a complementos alimentares. O objetivo é reforçar o amor. Ultimamente está programado para breve, um filme romântico: "A Casa do Lago". Este filme é americano com os atores Keanu Reeves e Sandra Bullock nos principais papéis. Como carro chefe da divulgação e marketing eles escolheram a frase: "É possível amar alguém que você nunca viu?". Acredito que muitos transeuntes dessa linda rua tem uma resposta afirmativa.

Tive meus dias de glória ou de sorte quando a Leo atravessou o país para vir me ver. A jovem quadragenária e eu passeamos muito, como não poderia deixar de ser, ali pela Rua da Praia. Era a nossa via principal que adorava. Por opção de nossa moradia provisória e a orla do Guaíba passávamos sempre por ali. De vez em quando entrávamos no centro de compras. Vez por outra parávamos num daqueles restaurantes para o nosso bom carreteiro de charque regado a um vinho serrano, e a vida caminhava.

Foi numa das salas de cinema da Mário Quintana que assistimos: "As Garotas do Calendário" filme esse que inspirou as gaúchas qüinquagénárias a participarem da folhinha tupiniquim: "Gurias do Calendário" em dezembro de 2005. Com meus olhos de observador tenho constatado muitos casais que já passaram dos sessenta trocando carinhos ali naquela via. Há sim um incentivo ao desejo, a troca de afeto. O caminhar indolente dos fins de semana nas calçadas desobstruídas. A velocidade calma dos automóveis que circulam faz com que o carinho renasça no coração dos transeuntes. Há uma gama enorme de seres felizes na Rua da Praia. Está estampada no rosto as horas de alegria pelas quais passaram ou estão passando.

Mesmo para os solitários, há as lojinhas com computadores para contato direto nos sítios de relacionamento quando conseguem escapar das seguidoras da deusa afrodite da praça da Alfândega. Lá na saída para a avenida Independência há sobrados com fotos coloridas nas escadas, como se fossem gravuras de atrizes de cinema. Lá as moçoilas reforçam o título de corredor do amor da rua mais famosa dos porto alegrenses. Quem for lá juízo para não tecer esse comentário porque a taxa periga subir.

Foi nessa rua que Luciano que veio lá de São Francisco de Borja conheceu Ana Rita que havia chegado a poucos de Vacaria. O casal se conheceu, namorou, noivou, passeando ali no corredor do amor. Se casaram e foram morar em Canoas. Um dia, depois de anos juntos voltaram a rua e na fila do cinema: Ana neste dia encontrou Carlos, o jovem a quem havia prometido amor eterno quando morava no sítio na serra. Junto com ele, por coincidência, estava Luana, jovem essa que havia sido a paixão da infância de Luciano lá na região das missões.

Os casais no dia, ou na noite, trocaram o cinema por um bom papo a quatro cabeças. Havia muito o que conversar. E como havia. O cenário foi uma lancheria ali pertinho. O lanches no prato esfriando, o refrigerante esquentando e a conversa era o principal ítem do cardápio dos quatro. Hoje os quatro são vizinhos em Canoas. São testemunhas um do outro nos registros civis dos filhos que crescem juntos e estudam na mesma escola. De vez em quando vêm a Rua da Praia, matar as saudades do dia do reencontro e celebrar a vida que hoje levam. Pelo que se percebe, ninguém consegue passar imune pela Rua da Praia. Ninguém escapa dos fascinantes encantos de Afrodite e/ou Vênus. Que Oxum, Dandalunda proteja os amantes. Viva o amor.

GERALDO POTIGUAR DO NASCIMENTO/2006

O Caroço de Butiá

Meu nome é Cirila. Sei que é um nome diferente dos nomes de hoje. Coisas da minha avó. Minha avó é muito católica. Pelo menos ela diz. Acredito que era um pouco mais quando estava na barriga da minha mãe. Faz muito tempo que eu nã o vejo ela ir a igreja. Ela acompanha a religião pelo rádio e pela televisão. Diz que está muito velha pra ficar andando por aí.

Conta minha avó Madalena que quando ficou grávida de mim, minha mãe teve muitos problemas e ela, a minha avó, fez uma promessa: tudo deveria correr bem. Nascer com saúde, minha mãe ficar viva, ganharia o nome do santo do dia. Santo. Digo santo falando como os adultos falam. Santo no masculino. Santo, como se nã o houvesse santa.

Nasci no dia dezessete de março. Neste dia, diz minha avó que olhou num almanaque não existem mais e ela ainda guarda um até hoje num local que ela chama de "meu relicário", com as páginas amareladas e todo furadinho de traças. Olhou nesse livrinho/ revista, sei lá e descobriu que o santo do dia ou os santos do dia, eram três: Cristiano, Narciso e Cirilo de Jerusalém. Não me perguntem como foi a escolha, isso minha avó também não sabe explicar. Depois que ela me contou, fiquei imaginando que poderia ter o nome de Cristiana. Os amigos e amigas me chamariam de Cris, assim como chamam o Cristian Chavez, o carinha que mais gosto na novela Rebelde e na banda RDB. Deixa pra lá. Hoje já estou acostumada com esse nome e os meus e as minhas coleguinhas me chamam de Ci.

A minha professora de literatura falou que alguns índios acreditam numa deusa, bruxa, sei lá o que que eles chamam de "Ci" . Gosto disso. Tenho doze anos. Acho que sou uma criança normal. Apesar de meu lado bruxinha, sou normal. Falo muito em minha avó porque vivo a maior parte do tempo com ela. Meu pai e minha mãe trabalham fora. Meu pai é o Humberto. Chamo ele de Beto como a mãe chama. Beto é caminhoneiro. Desde pequenininha vejo ele muito pouco. Falo com ele quase sempre por telefone, por carta ou por emeil. É verdade. Meu pai é um homem moderno. Com mais de cinqüenta anos aprendeu a "mexer" em computador para conversar com a gente por emeil's. Vez por outra conversamos direto pelo computador. Acho muito legal. Ele é o meu principal amigo virtual, mesmo que ele não tenha tempo, todo dia eu deixo um recado pra ele.

Minha mãe é a Luciana. Todo mundo chama ela de Lu. Como disse, também trabalha fora. Sai muito cedo. Quando ainda estou dormindo. Volta cansada no final da tarde. Mesmo assim ainda arruma a casa, faz a janta, lava a roupa e "passa a lição" comigo. Essas coisinhas que dona de casa e mãe têm que fazer.

Sou inteligente. Acho que sou. Tenho boas notas na escola. Quando crescer, quero ser escritora. Gosto muito de ler e escrever. De vez em quando "lá na escola" a professora manda a gente ler em voz alta. Adoro. A maioria do pessoal da sala nã o gosta. Reclama. Adoro. Sou uma criança normal. Acho que sim. Ninguém nunca me disse o que é ser uma criança normal mas acho que sou. Minha avó; sempre ela, diz que dou muito trabalho. Vive gritando comigo. Não pode fazer isso; não pode fazer aquilo. Fala dos meus horários de ir pra escola e proíbe de ir na casa de minhas amigas. Não posso ver televisão ou de ficar no computador até tarde. Falam muito de direitos da criança. Será que a criança nã o tem o direito de faltar a aula pra ficar com os amigos e amigas ou ficar no computador até tarde?

Vó Madalena diz que ainda não posso ter amigos. Só amigas. Eu acho errado. Tenho alguns amigos sim. Gosto deles e não vejo nada errado nisso. Gosto de jogar bola com meus amigos e amigas. Outro dia por causa disso quase que me acontece uma tragédia. Tava jogando bola com meus amigos e amigas quando chegou meu tio Zé. O nome do meu tio é José Luiz mas a gente chama de "Tio Zé". Ele mora no sítio no interior. Sempre quando vem de lá ele trás frutas, legumes, verduras e cereais. Nesse dia ele trouxe um saco de butiá. Frutinhas madurinhas, docinhas, super gostosas.

Não que seja gulosa, coloquei umas três frutinhas na boca. Coloquei e voltei a jogar bola. De repente, recebo uma bolada na cabeça e zup, engulo o butiá com caroço com tudo. Foi horrível: o butiá ficou atravessado na minha garganta e fiquei sem poder falar. Me trouxeram para minha avó. Foi uma confusão daquelas lá em casa. A situação não mudava. Minha respiração falhando. Meus amigos e amigas acompanhando meu sofrimento. A porta cheia de gente. Minha avó super nervosa. Já havia decidido que daquela não escapava. Era o que de pior podia me acontecer: morrer tão jovem.

Depois da minha musa, a Britney Spears "ficar louca", cortar o cabelo careca e agredir um monte de jornalistas e fotógrafos; depois de ler nos jornais e revistas e ver na televisão que meu ídolo rebelde, o meu amadinho, o lindinho dos meus sonhos; o Cristian Chavez gosta de homem, era uma das piores situações que podia me acontecer. Morrer. Morrer tão nova. Me levaram pro postinho de saúde do bairro. Lá disseram que não podiam fazer nada. O aparelho de raio x não estava funcionando. Lá vou de ambulância pro hospital de pronto socorro. Odeio som de sirene de ambulância. Pior mesmo é estar dentro. Numa maca.

Me faltava o ar. Estava decidido: ia morrer. Minha avó nunca me disse como é morrer. Nunca tive tempo de pensar no assunto. Era a primeira vez que tinha um caroço de butiá atravessado na garganta. O barulho da sirene da ambulância, a agitação dos carros em volta, o céu passando apressado através dos vidros da janela do carro e, aproveitando, ia me despedindo de tudo que fazia parte de minha vida: a Mônica, o Cebolinha, o Cascão; o Tom e o Jerry; o Chaves, o Kiko, a dona Florinda; meus CDs e DVDs do RDB apesar do Cris; meus amigos e amigas do ORKUT; meus sonhos de ser escritora;.... tudo estava ali passando pela minha cabeça. A morte estava bem perto.

A ambulância atravessou o portão do hospital. Deu uma freada brusca. Senti que alguma coisa havia mudado. Parecia que a minha respiração tinha voltado ao normal. Queria falar mas tinha medo. E se a voz nã o saísse? E se já tivesse realmente morrido? O médico examinou minha garganta. Falou pro meu tio que estava tudo normal. Meu tio Zé perguntou se era grave. O médico com uma cara de ironia disse que era. Receitou um remédio. Meu tio não entendeu o recado do médico. Apressado, me fez tomar uma dose maior do que a receitada. Passei vergonha e deixei o taxista irritado por ter borrado o banco. Hoje eu não vou a aula porque tenho de ficar indo no banheiro toda hora. Eu adoro a vida.

Geraldo Potiguar do Nascimento

terça-feira, 23 de junho de 2009

Uma Ninfeta Gaúcha

Desde que comecei a escrever usando como objeto de minha inspiração a "rua da praia" que tenho desejo de falar de mulheres. Falar das mulheres nós ouvimos desde criança. Aliás, o assunto é até muito lúcido, embora Em alguns momentos, tenham lá suas complicações. Nascemos de uma mulher, acostumamos logo cedo a ouvir histórias ou estórias de mulheres por algum ou alguns de nossos entes queridos, normalmente alguém do sexo feminino. Há tantas pessoas pra nos contar as estórias. Normalmente há mulheres nesses relatos. Principalmente nesse tipo de narrativas: ninfetas. Quando criança, uma das primeiras histórias que me contaram, foi a da "branca de neve".

Não tenho dados estatísticos, mas parece que essa é a mais contada. Não gostei da história. Nem um pouco. Não consigo entender o porquê, mas dessa eu não gostei. Sei lá, nasci em Natal, "cidade do sol". Na ingenuidade do meu tempo de guri era complicado entender uma "branca" e ainda por cima, "de neve", algo difícil de entender por um guri nordestino. As "brancas" da capital potiguar são rosadas. Achava a personagem branca demais, a madrasta, má demais, e muito estranho o comportamento daqueles sete anõezinhos.

A tal da "bela que adormece" achei babaca demais: se machucar no fuso pra mim era dose cavalar para a portadora dos dois neurônios. Prostrar-se num leito e viver anos e anos a fio a espera do príncipe encantado sem aprender nada da vida é desinteligente. Algumas mulheres agora em nossos dias seguem o exemplo e se inebriam, adormecem, e só acordam quando precisam do exame de dna. As histórias têm finais felizes (quase sempre). Porque acabam no meio da festa. O "e viveram felizes para sempre" fica isento de testemunhas.

A primeira vez que me contaram, tive muita dó do lobo que teve um triste fim após usufruir tudo que a ninfeta e a vovozinha tinham de vermelho. O príncipe que virou sapo seria mais interessante como rã com pernas fritinhas, tostadas, com arroz à grega, um carbenet branco e uma boa companhia. À noite. Tudo à meia luz.

A moça do borralho me deu vontade de mandar todas as mulheres com seus instintos de inveja para o caldeirão da bruxa. Esta sim, feia e desengonçada com é retratada nos livros, que na sua maioria foram escritos por homens, porém inteligente. Com um pouquinho mais de experiência vim a imaginar que o gênio daquela mulherada não devia ser nada fácil.

Quer saber quem me despertou interesse? A tal da Alice. Esse nome foi dado a personagem pelo seu criador, o reverendo Charles. Charles Lutwidge Doudson era pastor evangélico e como escritor adotou o epíteto de Lewis Carrol. Podia ser Maria, que eu não iria me incomodar. Mas foi esse, deixa assim. Leram para mim e eu, segurei o livro e fiz dele o meu companheiro de travesseiro. Quis que a Alice me fizesse companhia desde cedo. Mais cedo ou mais tarde eu teria condições de ler sozinho e desvendar minha musa.

Alice me pareceu, após a centésima leitura, uma jovem sensata. Pelos idos dos meus catorze anos a personagem do reverendo passou a ser minha paixão platônica. Paixão mesmo. Paixão dessas de colocar no coração e armar todo o visual em volta para que o mundo saiba o quanto você é bobo. Um pouco depois a substituí por Romina. Romina Power. A conheci através de reportagens nas revistas quando começava a demonstrar o frescor de sua juventude nas telas do cinema nos filmes que vinham lá do estrangeiro. Menos mal. Essa apesar de tudo que se pudesse falar de mim era gente. Tinha vida.

Caminhando pela "rua da praia", na capital dos gaúchos, vivo a observar as ninfetas que transitam por ali. Vejo-as sozinhas. Acompanhadas de mães, pais, avós, com amigas, algumas vezes com namorados, paqueras ou quem quer que seja do sexo oposto e não muito raro com algumas do mesmo sexo. Gosto de admirar. Não "com a mesma mente" daqueles que navegam pelos sítios da internet e que usam a palavra como chamariz. Apenas com o intuito de admirar a bela escultura do corpo humano.

Conheci uma. Digo conheci porque tive a oportunidade de conversar. Admirei-a. Não como Balthus. O Balthasar Klossowiski de Rola, o pintor francês. O artista as desnudava nas telas. Considerava-as "muito mais anjos que demônios". No nosso terceiro milênio seria pedófilo. Minha admiração é uma viagem de poeta. Cronista. Aquela jovem me fazia lembrar das divindades mitológicas dos rios, principalmente na mistura das lendas e da transformação da mulher em peixe e vice-versa. Da virgem hamadríade com seu belo corpo de mulher e gazela que ilude caçadores enquanto se defende dos "seus" demônios.

Ela estava ali. Do meu lado. Rosto lindo, corpo escultural. Blusinha colada ao corpo, fechada com botões que pelo belo volume do busto e a jovialidade, marcavam a blusa e deixava à mostra a marca do sutiã. A saia era justa. Justíssima. A marca da calcinha, asa delta, fio dental ou tanga...me desculpem pois faço muita confusão com relação a essas peças de uso prioritário das ninfetas, estava lá para quem quisesse ver. Eu procurando ser sisudo tentava domar os olhos e os desejos. Admirava tudo a furtapasso.

Quinze anos é a idade da minha amiguinha. Lúcia. Lúcia é o seu nome. Caminhamos pela "rua da praia" e de repente paramos defronte uma daquelas lancherias de "pratos" rápidos que a juventude tanto gosta. Se é que podemos chamar aquilo de pratos. Um simples olhar que demonstrava desejos foi o suficiente. Lá estávamos nós a consumir aquela carne estranha e bebendo aquele líquido laboratorialmente inidentificável.

Outras ninfas ou ninfetas rondam por ali. Muitas apesar de terem completado a mesma idade não tem a força da minha amiga a compor a sua personalidade. Os revezes diários e noturnos assim como as intempéries do tempo e da vida as impede de cultivar um belo corpo e manter uma saúde semelhante a da Lúcia. Vitimadas pelo cerceamento da realização da maioria dos desejos, sufoca-os no bodum de tolueno. Olhos famintos, carentes de tudo. Nos admiravam. A vitrine era ampla e lá estávamos nós expostos aos sonhos dos sonhos.

Lúcia era minha musa. Naquele momento não sei se desejava ser pescador, caçador ou um outro sonhador qualquer. De repente, a "minha" ninfeta acena e por fora da vidraça está aquela senhora que foi embora levando o meu sonho. Tive que pagar a conta.


Geraldo Potiguar do Nascimento/2004

Os Brigadianos da Rua da Praia

O meu amigo Brad Pitt, ops, Douglas, me pediu para escrever sobre os "brigadianos da rua da praia". Eu na minha série de crônicas a partir da "rua da praia" nunca tinha me inspirado a pensar sobre o assunto.

Vamos lá. Primeiro com todo o respeito aos leitores de outros estados e que por ventura tenham dúvidas. Brigadiano aqui no Rio Grande do Sul é Policial Militar.

Quando li o que o Douglas escreveu a primeira idéia é que apesar de haver um grande quartel da Brigada Militar aqui na "Rua da Praia" ou Rua dos Andradas (o nome verdadeiro da rua), eu quase não os olho. São eles que olham pra gente. Dever de ofício. Admiro de vez em quando alguma representante do Batalhão Feminino. Existem belas gurias nesse batalhão.

"Gosto" dos policiais militares do Rio Grande do Sul. Os percebo mais tranqüilos do que os de São Paulo, por exemplo. Admiro o respeito interno aos direitos humanos. Conheci um brigadiano homossexual daqueles que empunham bandeira. Que bom que a harmonia e a ordem moram no coração da corporação. Um exemplo para o mundo.

Geraldo Potiguar do Nascimento.Porto Alegre, 2 de setembro de 2006.

O Tabu do Sexo

Numa das ruas centrais de Porto Alegre, a avenida Borges de Medeiros, nos pilares sob o viaduto há uma frase escrita por algum neurótico: "mãe puta deixa o marido dar banho na filha". Está em quase todos. Foi colocado lá talvez como sentimento de culpa. Como regurgitação daquilo que foi "ingerido" e está fazendo mal.

Estar aqui no Rio Grande do Sul me traz saudades grandiosas de todos os lugares por onde passei. A saudade maior e ùnica na sua intensidade é de meusfilhos. Filhos e filhas. Lembro-me que quando novinha ensinava-lhe os primeiros passos e entre outras atividades, lhe dava banho. Cuidava de todas as partes. Lhe Ensinava a cuidar de seu òrgão sexual: _Olha minha filha, quando tomar banho sozinha tem que passar o dedinho aqui "na dobrinha" para que a sujeira não acumule.

Com o filho também: - tem de puxar esse courinho para tras para que fique completamente limpo.Conheci uma senhora em São Paulo com mais de cinqüênta anos que num "depoimento" a esse que escreve afirmou que conheceu um homem nu, ao vivo, no dia que decidiu trair o marido. Eles, ela e o considerado amante "se permitiram" uma nudez. De ambos. Jamais havia conseguido realizar tal feito nos mais de dez anos de casamento.

Avançou mais. Chegou a um orgasmo. O ùnico de sua vida até aquele momento. Como disse, no caso de seu marido, chegava da roça, quando ainda moravam numa cidadezinha do interior, agarrava-a, levantava a sua saia, reclamava quando a encontrava com calcinha, colocava seu "objeto" para fora, e a possuía a semelhança de um vaso sanitário. Isto é: resolvia o"problema dele".

Beijos na boca ela não lembra bem mas acha que aconteceu um ou dois no tempo de namoro. Nesses três tópicos que se encerram em um, tento falar um pouco sobre a cabeça dos homens. E das mulheres. O tabu do sexo, as neuroses e a vida. Amanhã eu volto.

GERALDO POTIGUAR DO NASCIMENTO.

Esse texto estava publicado numa comunidade no orkut que tinha o título: "Já li as Crônicas do Potiguar". Eram textos pequenos (do tamanho de uma mensagem que é colocada nas comunidades), agora nessa colocação aqui nesse meu blog tive a tentação de reescrevê-los, aliás, escritor vive querendo reescrever os textos dele e dos outros também. Resisti. Como a intenção era só cutucar o vespeiro, pode ficar à vontade para escrever os seus comentários no que fico muito grato.

O Metrossexual da Rua da Praia

Já se vai longe o tempo dos janotas. Dos impertigados de Pelotas. Jovens esses, doutores, cultos, europeizados, usuários mais do cérebro do que dos músculos, incompreendidos pela peonada criando má fama no Brasil inteiro.

O século acabou. Estamos no terceiro milênio. Mas, a herança da segunda metade do século passado está viva. Século de Sean Connery - o eterno 007, dos Kennedys e Bill Clinton. De Brad Pitt e de David Beckham. De Magic Johnson e de Eddie Muphy.

A vaidadade é algo presente em todos os setores da natureza. Ou vamos nos esquecer da impecabilidade dos bigodes de Stalin e Hitler, do garbo de Winston Churchill ou dos terninhos dos Beathes, só para citar alguns exemplos.

Segundo o jornalista americano Mark Simpson, está surgindo um novo homem: o metrossexual. Metrossexual é uma palavra ampla. Na verdade não é uma palavra: é uma expressão. Várias conotações cabem nessa expressão: hétero da metrópole seria uma das. Os exagerados, com um pouco de maldade e bastante "pimenta no molho", cognominam de: um "gay" que gosta de fazer sexo com mulheres.

Cristiano é um deles. Loiro, alto, bonito e transbordando em sensualidade. Carrega um nome pomposo: Verlanquieri o que além de garantir a nacionalidade europeia, justifica os zeros à direita das suas contas bancárias. Trinta e cinco anos. Quase uma década vivida do outro lado do oceano. Cursos de aperfeiçoamento; vaga na direção da empresa da família, mas não fugiu da Rua da Praia ou Rua dos Andradas. Lembranças de quando saiu de Caxias do Sul. A universidade federal, os cursos de administração, economia e comunicação, os amigos, as amigas, são lembranças vivas alí na rua mais famosa dos gaúchos ou dos porto alegrenses.

Cristiano é homem. Hétero. Faz jus ao título dessa crônica. Gasta inimagináveis (para nós cidadãos e cidadãs comuns) fortunas com produtos para a preservação e o embelezamento do corpo. Tudo é adquirido em Paris assim como faz Chitãozinho da dupla Chitãozinho e Chororó, Marilia Gabriela, Reynaldo Giannecchini e outros.

Seu apartamento tem uma decoração primorosa. Há uma mistura de cores, frutos de queimas de neurônios com Sandra Guilherme, sua decoradora. Há predomínio de bege mas não há dispensa do azul neném e afirma que salmão, cor predominante na decoração do seu quarto foi a que mais se adaptou a sua personalidade.

Damali, um metro e oitenta de formosura trazida da África pelos seus antepassados; passista da "Samba Puro", da "Vai Vai" de São Paulo, da "Estação Primeira da Mangueira" do Rio de Janeiro e esticadas no Bloco Afro "Ilê Ayiê" da Bahia é a cabelereira de plantão. Montou um salão alí na Riachuelo, perto do Shopping. Nos "folhetins das bocas malditas" circulam "notícias" que o salão existe só para atendê-lo. Conhece mais de meia dúzia de paízes acompanhada de seu inseparável Mugabe, fruto de um grande baile, uma troca de sorrisos e grandes momentos de uma paixão. Além de acompanhá-lo nas viagens internacionais, ser sua amiga e confidente, tem que manter ouvidos atentos e celular sempre ligado para as emergências.

O metrossexual da Rua da Praia é gente. Educado, simpático e cousé. Principalmente quando o time do seu coração sai vitorioso. Paixão pelo "inter" é algo que ele não explica. Nem para os melhores amigos. Na sua empresa trata todos muito bem. Os colorados ele trata com uma atenção especial. Dia de jogo está lá no estádio. Em qualquer parte do Brasil ou do mundo. Marca sempre seus compromissos de acordo com a agenda do clube.

Cristiano gosta de bronzeamento. Artificial. Quando pode vai com seu carro, do ano ou do mês, já que troca de carro com grande freqüência a sua propriedade em Torres. Uma delas. Sol na praia só antes das 10h da manhã ou após as 16h. Não fuma e apaga da sua lista de amigos e amigas quem comete esse pequeno deslize.

A adrenalina no cérebro desse homem é algo constante. Gosta do desafio. É piloto amador de carros de alta velocidade. Tem brevê para pequenas aeronaves. Adora. Adora mesmo envolver altas quantias nas ofertas do dia dos bancos de butique.

As unhas tratadas e pintadas são obras de Luana, prima e sócia de Damali. As roupas são encomendadas nas griffes da moda. A ùltima do Cris (para os ìntimos), foi a contratação de Èrica. Nutricionista. A jovem vai orientar Dona Floriza, cozinheira de tempos idos, na elaboração de uma dieta mais balanceada e mais saudável.

Meu amigo é um cavalheiro. Adora abrir a porta do carro para as suas amigas ou namorada quando tem. Não permite sentar-se à mesa com uma mulher sem antes acomodá-la. Ah, ia me esquecendo: faz questão de pagar a conta.

Cristiano recusa rótulos. Para ele, tudo é sinal dos tempos. Não se reinvindica nem do "clube do bolinha", nem dos "mauricinhos" e muito menos dos "plínios". Diz ter a sensibilidade de um gato. Tem inúmeras amigas as quais trata muitissimamente bem mas sonha com um amor. Um verdadeiro, puro, leal e honesto amor. Espera encontrar uma. Apenas uma mulher que lhe ame. Para o resto da vida. Com eterna reciprocidade.

Cristiano espera encontrar a sua Fabiana. Talvez, quem sabe: na Rua da Praia.

Geraldo Potiguar do Nascimento - Dezembro/2003

Chamego Gaúcho

A minha admiração pela “rua da praia” existe há muito. Eu sei que ela não existe já que mudaram o seu nome, mas eu admiro. Usando a minha sinceridade, a minha admiração por essa rua vem de antes de conhece-la. Pelo que me falavam e... Principalmente pela esquina democrática.Em Porto Alegre virei um maior admirador, curtidor, amante e pesquisador dessa famosa rua. Subo e desço a rua mais famosa dos gaúchos ou dos porto alegrenses quase todos os dias. De vez em quando, como ninguém é de ferro e como eu também não sou, para me livrar do cansaço, sento um pouco.

Fico ali, sentado, observando o movimento, pesquisando...e sonhando. Sonhar. Sonhar é bom. Sonhar é muito bom. Sonhar é um direito do ser humano. Não sei se na “declaraçãouniversal dos direitos humanos” tem algum artigo que defende os sonhos. Tenho certeza. Uma certeza quase visceral que o sonho é um direito.É ali na Praça da Alfândega, defronte ao Clube do Comércio, do cinema, da lancheria e do shopping que uso um dos bancos de madeira que decoram a praça e sugere, para sonhar.

Sonho com um chamego. Um romance. Daqueles tórridos. Envolvimento total: corpo, alma, coração, até perder o fôlego. Morro de inveja dos casais reais ou fictícios: Donald e Margarida, Mickey e Minie, Eduardo e Mônica, Giuzeppe Garibaldi e Anita, Lampião e Maria Bonita, Nacib e Gabriela, Pedro e Domitila, Peri e Ceci, Prestes e Olga, Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, Lula e Marisa e tantos outros.

Foi numa dessas tardes. Era uma quarta feira. Podia ser outro dia qualquer, mas era quarta feira. Absorto em meus pensamentos demorei a perceber que dois olhos castanhos escuros me observavam. Do outro lado dobanco. A bela chinoca tinha uns vinte e uns. Um sorriso, um piscar de olhos, um convite: alguns segundos após a Valderez estava lá sentadinha do meu lado. No movimento conferi os seus um metro e sessenta mais ou menos, em torno de cinqüenta quilos, pouco busto, belas coxas, cabelos castanhos escuros, uma pele naturalmente bronzeada e um lindo rosto.

Era bela. Era uma bela guria.Conversamos um pouco. Estranhei a dificuldade dela entender que sou do Rio Grande do Norte e não do Ceará. Que o estado onde eu nasci não tem nada a ver com o Piauí a não ser o fato de pertencerem à mesma região. Coisa da distância. Da geografia. Caminhamos. Alcançamos o mercado municipal. Tomamos um suco: Ela, de abacaxi; eu, de laranja enquanto ouvíamos, ao vivo, belas canções. Ousei. Pedi uma fatia generosa de torta de morango. Ela recusou: está de dieta observada. Para manter o peso, foi o que me disse.

Ia embora. Tinha que ser com brevidade. Alegou filho e casa pra cuidar. Beijos no rosto. Um convite e o endereço: no domingo tem um galeto lá em casa. Não perca. Leva umas cervas e tudo bem. Depois do meio dia. Era o começo. O sonho começava a se materializar. Na volta para casa eu era o mais feliz. Cantarolava uma canção romântica. Uma daquelas imortalizada pelo rei e tão bem interpretada naquela voz suave do artista do mercado. Os cantos da boca se erguiam para cima. Eram só risos. Era eterna a minha felicidade.

Foram quatro noites de sonhos. Fomos árabes, ela de burca e tudo, oferecendo para mim a dança dos sete véus; fomos príncipe e princesa com carruagem e cavalos alados; fomos heróis vitoriosos. Viajamos no trem azul da África do Sul, o Orient Spress, jantamos a luz de velas com direito a quarteto de violinos e músicas românticas, e outros. Aqueles quatro dias foram os mais longos de minha vida. Era verão.

No sábado, Lúcia, a cabeleireira, cuidou do visual. Ana, a manicure/pedicure cuidou das mãos e dos pés. Na perfumaria, adquiri um xampu de sândalos patchouli. Sempre me disseram que é bom. O creme hidratante, levemente perfumado seria usado no corpo inteiro. Busquei no fundo do armário aquele perfume comprado num momento de loucura e só usado em ocasiões especiais. Lá esta eu. Era um paxá. Me sentia “um Adonis”. O próprio.

A vida era só nós dois. No guardanapo do bar ela me escreveu: Vila Passo das Pedras II. Descobri que onde ela mora, os vizinhos chamam de VilaMetralhadora. E eu com isso? Eu só quero é ser feliz. Eu só quero, junto com a minha amada, fazer história. O sol descendo. A prenda do meu lado oferecendo beijos, abraços e apalpações. Numa mão, o copo decerveja geladinha. Na outra, um peito do galeto. O samba romântico da Lecy Brandão era nossa trilhamusical. O mundo! O mundo era apenas nós. Eu era um guri no dia do seu aniversário.

Surge no portão um jovem: alto, corpo negro com pinta de lutador de boxe. Não me exijam detalhes. Estávamos a Val e eu nos aconchegos. Nos entendendo. A chinoca pula de meu colo e grita: _Meu marido! Vi na minha frente aquele homem “de cinco metros de altura por outros tantos de largura”. Não tive tempo pra pensar. Apelei pros ensinamentos de Mestre Bimba e nem olhei para trás pra ver se o mancebo se levantou. Num só fôlego, alcancei as duas pistas. Entrei no primeiro ônibus que parou ali. Na Avenida Farrapos, quase no meio da viagem, descobri que trouxe o copo de massa de tomate da Valderez. Aproveito essa pra dizer que um dia eu volto pra devolver. Talvez.


Geraldo Potiguar do Nascimento nasceu em Natal, RN, em 1954. Escreve desde os 10 anos. Têm “no prelo” os livros: “Opúsculo de Amor e Obscenidades” (poemas); “Fescenino” (diário sexual); “Homens de Sal” (romance) e outros livros (peças de teatro, roteiros para cinema e televisão mais romances). Potiguar realiza wokshops para “divulgação de literatura”: um dirigido aos alunos do ensino fundamental e médio, outro para membros do "grupo da terceira idade" e outro de redação para pré-vestibulandos.

Estou no ORKUT, no Hi5, no Sonico, no FACEBOX, no Badoo e outros ...leia mais no google.
Contato: geponas@gmail.com & geraldonascim48@hotmail.com

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Visite Natal – 365 diais de sol por ano

O Gaudério da Rua da Praia.

Maria era a mais experiente. Nasceu em Torres. Alta. Esbelta. Cabelos pretos e lisos. Olhos castanhos claros. Nascida a pelo menos quatro décadas. Quem nã o conhecia esse detalhe formal, lhe dava menos. Aliás, é ou não a idade biológica um detalhe formal? Seu olhar cativante e longínquo acarinhava os passantes. Sã o milhares. Seu sorriso marcante de tentes alvos e bem cuidados como os das modelos de comercial de dentifrício eram um detalhe a mais para aquele corpo bem moldado. Ficava ali. Próximo a banca de jornal. A esquerda de quem sobe a "Borges". Defronte a farmácia.

Lourdes também era bela. Aqui em terras gaúchas seria chamada de bugra. Nascida em Encruzilhada do Sul. Meia idade. Lá pelos trinta. Pele clara. Cabelos pretos encaracolados. Observando-a com mais atenção relembrávamos um pouco as nossas lições de história e geografia. Do Brasil e prioritariamente do Rio Grande do Sul. Índio, negro e branco estavam ali representados naquele corpo de mulher. De uma bela mulher. A mistura de etnias aprimoravam-lhe. Destacavam-lhe principalmente os seios e as ancas. Assemelhava-se a Maria pelo olhar na mesma intensidade e pela ansiedade. O olhar era triste. Triste como o de quem busca. Seus olhos castanhos escuros estavam super envolvidos numa busca. Uma busca incessante e atemporal.

Ingrid era a mais jovem. Pela fisionomia e a estrutura que a sustentava, não havia completado três décadas. "Alemã" de origem, nascida em Lagoa dos Três Cantos, naturalidade essa que renitia-se em afirmar: poucas pessoas haviam ouvido falar em sua cidade natal. Achava a cidade sem muita graça. Sem muitos atrativos. Isso a encabulava. Um pouco. Um metro e oitenta mais ou menos. Cabelos louros naturais. Olhos azuis ou verdes de acordo de como a luz incidia. Magra, mas não tanto. Busto, nádegas, coxas e pernas que satisfazem os mais exigentes conceitos de beleza e saúde. Um monumento de mulher.

"Viviam" ali as três. Após as cinco; seis horas da tarde era normal vê-las. Maria como sempre, próxima a banca de jornal; Lourdes quase na porta do banco e Ingrid ali defronte ao bazar. Todos. Todos mesmo. Passantes. Ficantes. Esperantes, Trabalhadores que por ofícios tinham que permanecer ali conheciam as três mulheres. As três lindas mulheres. Nã o faziam nenhuma questão de não serem percebidas. Todos os dias da semana estavam ali. Não que eu viesse ao local para conferir. Julgo pela obviedade. Julgo pelos dias que passava naquela esquina. Se estavam nos dias que passava... certamente estariam ali nos dias em que meu intinerário era outro.


A Rua da Praia, ( a rua mais famosa dos gaúchos, ou dos porto alegrenses), ou melhor: a Rua dos Andradas com a Borges de Medeiros ficavam melhor adornadas com a presença daquelas belezuras.

Aquela quarta-feira seria um dia comum. Igual como outro qualquer se não fosse por um fato: as três mulheres estavam como sempre marcando presença. Só que nesse dia estavam pilchadas. Vestidas com todo o rigor que exige o tradicionalismo gaúcho: vestido de prenda, sapatilhas, xale. Não esqueceram nem o detalhe da rosa vermelha no cabelo.

Minha cabeça viajava. Nã o só a minha. Seriam amigas? Parentes? Para parentes ficava um pouco difícil . É certo que conhecemos famílias com membros tipicamente diversificados. Na situação apresentada era quase impossível para a biologia. Duas morenas: uma européia e outra ameríndia e uma louraça européia.

Fiquei sabendo pelos amigos e companheiros que as quartas; especialmente as quartas-feiras, elas compareciam tradicionalmente pilchadas. Ficamos de olho. Eu e meus "amigos". Todos fazendo crescer dentro de si o bichinho da curiosidade. Queríamos, mais cedo ou mais tarde descobrir o que faziam. O que buscavam aquele trio de mulheres.


Quarta feira, como outra comum. Lá estávamos: meus amigos, as mulheres devidamente pilchadas, e eu. Nós cá e elas lá. Nos lugares de sempre. Falávamos de quase tudo sem desgrudar por muito tempo os olhos das chinocas. Chamou-nos a atençã o a chegada de um homem e o alvoroço entre elas. Percebia-se um jovem senhor dumas quatro décadas de vida. Estatura mediana. Talvez assim... um metro e setenta. Xiru. Cabelos longos enrolado formando um rabinho e preso a nuca. Barba por fazer. O que ampliava a surpresa de todos é que o jovem senhor, vestia-se tradicionalmente à caráter: camisa creme, bombacha azul, bota e chapéu de barbicacho. Sem esquecer o lenço preso ao pescoço, a adaga e a chaira. A bonomia do gajo estava estampada no rosto. O desus, apesar da idade demonstrada, tinha um quê de jovialidade. Era um godero de quatro costados. Cavaleiro andante.

Ao vê-lo indumentado sentíamos falta do cavalo selado, que costuma ser chamado de "pingo", de um pelego com uma lã de primeira qualidade e do persuelo, é lógico. Assim estaria completo. Nunca se soube a sua origem. Em conversa à boca pequena ficamos sabendo que era lá da fronteira: Santana do Livramento ou Rivera; Era dali.

As mulheres se arvoraram. O mundinho ali da "esquina democrática" tomou ciência. Cobrança pela demora eram ouvidas longe. O gaudério tentava manter a calma. Com a habilidade de um peleador ou de um ilusionista mantinha tudo sob controle.

Mulheres abandonadas, viemos a saber: Maria "de Torres" havia conhecido aquele homem na sua cidade e conseqüentemente havia sido "deixada" em Encruzilhada do Sul; onde o distinto conheceu Lourdes. Esta, foi "esquecida" em Lagoa de Três Cantos onde a admiração pela adolescente Ingrid fez o mancebo taquicardear fria e falsamente por algum tempo. Ingrid ficou aguardando até pouco tempo numa "duas peças" na Praia do Niño em Capão da Canoa.

A choldabodra estava formada. A platéia nã o interveio. Entre eles e os outros havia uma sebe imaginária: um chircal. De repente a calmaria voltou a reinar naquela esquina movimentada. Foi a primeira vez que vi um homem abraçar três mulheres. De uma só vez e sem muito esforço. Ao passar ao lado do grupo onde eu me encontrava, após uma piscadela, vaticinou: - "É preciso saber lidar com as tchangas, tchê; senão elas te esganam.

Geraldo Potiguar do Nascimento/ 2003

Encontrão na Rua da Praia

Eu e a Fabiana nos conhecemos através de um encontrão. Eu sei que é uma forma bastante esquisita de duas pessôas se conhecerem, mas foi. Um encontrão na Rua da Praia. Rua da praia, na realidade, é uma rua que não existe. É a rua mais famosa dos gaúchos, mas é uma rua que não existe. A Rua da Praia não existe desde o século dezenove. Apesar de sua "inexistência", todo gaúcho sabe onde é a Rua da Praia. E não são só os gaúchos: por causa da "esquina democrática", que é a esquina da Rua dos Andradas com a Borges de Medeiros, essa rua é conhecida em todos os cantos do nosso país e até no exterior. Mesmo quem nunca veio aqui no Rio Grande do Sul já ouviu falar da "rua da praia".

Eu e a Fabiana tivemos ou cometemos um encontrão na Rua dos Andradas, nome oficial da rua da praia e em questão de minutos lá estávamos lado a lado em banquinhos, numa daquelas lancherias dalí da rua, dividindo um refrigerante, apesar do frio do inverno, em bora os raios do sol insistissem em se manter clareando o dia. Ou melhor: a tarde. A nossa tarde.

Minha mais nova amiga faz "História" na ULBRA (Universidade Luterana Brasileira ), de Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre, é uma empresária de uma pequena empresa na àrea de comunicação e garante que por dever de ofício vai a Universidade de Passo Fundo participar da Décima Jornada Nacional de Literatura.

A nossa conversa gira por vários assuntos: rua da praia, como não podia faltar; democracia; Rio Grande do Sul; Brasil e o Nordeste, dentre outros, já que sou um nordestino "perdido" aqui nessas terras dos pampas. Falamos de outros assuntos e em seguida descambamos para temas interligados como: amor, sedução, traição e solidão. Observações não faltaram em nossa cavaquiação. Falamos da mídia , contamos piadas, lembramos como as piadas contadas, que também fazem parte da mídia , minimizam a importância da mulher no processo histórico de transformação da sociedade.

Lembramos as páginas e mais páginas que existem na internet fazendo "gracinhas" com as mulheres e... na continuação colocamos em evidência as "galhofas" que existem "contra" os homens transformando a nossa mídia numa verdadeira "guerra dos sexos". Pérolas como: "os homens são iguais a pão de forma ou pão de sanduiche, como queiram: são quadrados, fáceis de dobrar e se desmancham com facilidade". Ou aquela que diz que: "os homens são iguais caracois: pegajosos, gosmentos e acreditam que a casa é deles".

Apesar de estar conversando com uma futura historiadora, não falamos muito sobre a morte do diplomata Sérgio Vieira de Melo, assassinado no Iraque onde representava a ONU (Organização das Nações Unidas) e tentava normalizar a vida do povo no pós-guerra e as conseqüências desse acontecimento para a paz mundial. Não falamos sobre o interminável conflito árabes/judeus. Não comentamos sobre estes primeiros meses do Governo Lula, nem falamos da tentativa do ator Arnold Schwarzenegger em governar o estado da Califórnia.

Lembramos de Obirici, a lenda histórica da ìndia rejeitada que teve suas lágrimas transformadas em rios que terminam formando a baía do Guaíba que banha a cidade de Porto Alegre. Dessa lenda pulamos para um acontecimento real ocorrido na zona sul da capital dos gaúchos, ao lado do arroio Passo Fundo: "Gislene,negra linda, passista dos "Bambas", namorava Dino, componente da bateria da mesma agremiação. Ao saber que o seu amado 'dividia' os seus prazeres com outra 'pretendente' tomou uma decisão: poria fim a tudo. Chico Dé, escoador de confiança da droga da região foi quem bancou o empréstimo do trabuco".

Na hora indicada, porta do colégio, lá estava Dino e Claudia, conhecida "de vista" de Gislene trocando òsculos e amplexos". "Dois estampidos chamaram a atenção dos transeuntes que não observavam, até aquele momento, a balbúrdia, tão comum na saída dos discentes. "Dois tiros. Dois mortos: Dino de vinte e um anos e Claudia de dezesseis".

O desespero estava estampado nos olhos de Gislene. Seu amor havia morrido; e pelas mãos dela. Seria ainda julgada por outro crime premeditado e executado. Não resistiu a pressão interna. Seus neurónios não a deixaram em paz. Várias opçoes foram sugeridas por parentes e amigos: mudança de endereço, indo viver com uma tia numa pequena cidade do interior; entrar no Movimento dos Sem Terra; trabalhar como palhaça, trapezista ou qualquer outra modalidade num circo mambembe e outros. Seu pai, separado de sua mãe, entrou na história. Sugeriu uma saída honrosa se é que para uma situação como esta a opção é válida. A ideia do velho seria procurar um bom advogado e se entregar na primeira hora. Ré primária, com um bom comportamento, atenuantes, etc, cumpriria no máximo um terço da pena o que poderia, com sursis, ficar em liberdade cumprindo apenas formalidades de apoio comunitário.

Gislene resistiu. Resistiu a todas as opções e pressões. Mas como dizem os mais velhos: "do destino não se foge". Quem saiu naquele fatídico dia de agosto encontrou o corpo de uma bela jovem, gestante, de dezoito anos dentro do Arroio Passo Fundo. Seu sangue verteu à vontade e seguiu o rumo do arroio transformando as, normalmente claras, águas da baía do Guaíba.

Fabiana pensa. Franze a testa. Arruma os cabelos de cachinhos castanhos e pintura descolorando descobrindo o preto do natural. Comenta a lenda de Obirici (a ìndia). Pensa mais um pouco e por fim, volta ao diálogo. Fala das fatalidades dos dias de hoje e da desvalorização da vida. Comenta a "rigidez" no pensar dos adolescentes. O conservadorismo na "educação dirigida aos homens" e muitos outros assuntos que passam na maioria das vezes longe do "saber acadêmico".

O Encontrão na Rua da Praia... ou será Rua dos Andradas? Ou as duas cognominações valem ? Os assuntos variados, as piadas, a lenda de Obirici e a cruel realidade principalmente das periferias das grandes cidades deixaram a minha mais nova amiga meio atordoada. Adolescente, vinte e dois anos, acadêmica, segue Fabiana sem entender, o quanto gostaria, o nosso mundo. No seu ìntimo, desejava que fosse diferente. Que o amor fosse a chave de tudo, afinal, o amor é lindo. E fácil. É muito fácil amar. Assim como um encontrão na rua da praia.

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quinta-feira, 18 de junho de 2009

Seja Bemvinda (o)

Sou escritor. Tenho a necessidade, quase vital de estar fazendo sempre, pelo menos, duas atividades: uma é ler e a outra é escrever. Às vezes faço as duas ao mesmo tempo. Desde que aprendi a escrever que escrevo. Sei que falei, ou melhor: escrevi sobre o òbvio. Disse que desde que aprendi a escrever que crio textos. No início, era a escola, os livros... do meu primeiro livro me lembro de um poeminha, que não sei de quem é, que dizia assim: "Vejo à noite uma estrelinha/ no céu piscando, piscando/ Mamãe diz que ela pisca/ Pisca, pisca me chamando/ Quando eu crescer e papai/ Me comprar um avião/ Vou lhe buscar estrelinha/ Na palma de minha mão".

Nasci no Nordeste na cidade de Natal, no Rio Grande do Norte. Sempre fui um aficcionado pela leitura. Em casa lia as revistas italianas de fotonovela que entravam em casa através de minha irmã Terezinha. Lí os gibís da època, tanto os infantis como "Bolinha", "Luluzinha", "Tio Patinhas", "Pato Donald", "Mickey", quanto as de adolecentes tipo: "Búfallo Bil", "Superman", "Fantasma", "Batman e Robin" revistas essas que comprávamos uma por semana e trocávamos por outra ainda não lida na porta do cinema São José no bairro das Quintas.

Era meio tímido. Ainda sou. Nessa história de timidez, era melhor, ao invés de conversar com uma garota para ficar juntinho, mandar um bilhete. Junto ia um versinho, copiado ou geralmente criado alí na hora. Fui crescendo e o amor pelos textos, todo êles era maior do que pela arte de empinar coruja ou brincar de biloca. No futebol sempre fui um perna de pau. No time do bairro, joguei em algumas posições e terminei sendo reprovado na posição de goleiro. Diziam que eu era um bom administrador. Pois é, muito pequeno virei cartola do time. Vivi cheio de inveja quando alguns amigos terminaram ou começaram no infanto/juvenil do Alecrim Futebol Clube. Fui lá também e me inscrevi para um teste e no dia indicado não passei de 20 minutos. Aos 12/13 anos "fiz" a minha atabalhoada iniciação sexual na zona do Zé de Pinto lá no bairro do Carrasco. Essa história de sexualidade assim como as mulheres com as quais tive muitos momentos de prazer virão num futuro próximo num livro que à princípio tem o título: "Fescenino - Diário do Sexo".

Pelos 14 anos, cheio de razão e pecha do macho dono da sua vida, passei a minha primeira noite fora de casa: era 6 de janeiro de 1968. Dia de Santos Reis. Dia da Festa da Limpa. Fui à festa, lá encontrei uma linda que já namorava a algum tempinho e fomos para a praia para a iniciação dela. Foi maravilhoso. Acontecimento de grande textos de romance. Quando cheguei em casa, lá pelas 7/8 horas da manhã fui recepcionado com grandes pauladas em todo o corpo. Apanhei de ripa que nem gente grande. Era uma segunda feira e na terça pela manhã peguei o trem em rumo ao Recife. Minha mãe só veio saber da fuga dois dias depois quando apareci no programa do Jorge Chau e mandei um recado para ela. Nunca mais voltei para casa. Tenho muito o que falar dessa minha história. Quem sabe um outro dia contarei mais um pouco. Sei que em São Paulo, trabalhei num monte de atividades mas, nunca esqueci da escrita. Na época da ditadura escrevia poemas de protesto. Quase panfletários. Nos anos 80 decidi que iria até Cuba apertar a mão de Fidel. Escrevi um livreto de poemas, com a ajuda de um argentino traduzi para o espanhol/casteliano e entrei na América Latina. Passei pelo Uruguay, Chile, Argentina, Paraguay, Bolívia, Peru, Equador e... Venezuela. Nesse ùltimo país tive um "problema diplomático" por estar viajando "apenas" com a identidade brasileira. Na embaixada do Brasil optei por voltar a cidade de São Paulo pois já estava com muitas saudades das pitchulas brasileiras.

No Rio Grande do Sul, após o insucesso com um trabalho numa ONG, optei por escrever, produzir e escambiar crônicas que contam um pouco da história desse estado dos pampas. Escrevi alguns textos primeiramente denominados: "Encontrão na Rua da Praia", "O Gaudério da Rua da Praia", "O Chamego da Rua da Praia", "O Metrossexual da Rua da Praia", "A Ninfeta da Rua da Praia", "Convescote na Rua da Praia", "Rua da Praia, o Corredor do Amor" e... diversificando escrevi um texto infanto/juvenil chamado: "O Caroço de Butiá" e... voltei para São Paulo.

Escrevo novas crônicas dentre elas: "História de um Taxista" e "Fogo no Amor". Trabalho no meu primeiro romance baseado na crônica: "O Metrossexual da Rua da Praia". Esse romance retrata a solidão do homem que possui muito prestígio, fama e dinheiro; com mais de três décadas de vida e exercendo um grande cargo nas empresas da família, ainda é solteiro. Recebe pressão de todos os lados. Muitas mulheres que querem deitar com ele entre elas uma linda prima. Êle tem uma paixão "secreta" e "é correspondido" mas, isso gera conflitos raciais de ambas as partes. É um romance aonde existe o amor, a paixão proibida, o sexo fortuito, os conflitos familiares, a ganância por dinheiro, o medo de amar, o mistério, o sobrenatural e muitos outros acontecimentos.

Pretendo colocar aqui essas crônicas que circularam e circulam através de meus contatos nas mesas dos bares e nas palestras. Breve as colocarei em livro e como compensação para as pessoas que já leram irão outras crônicas que juntarei no apenso: "O Cio do Ofício". Nas crônicas desse apenso escrevo ficticiamente sobre acontecimentos fortuitos envolvendo o escritor e algumas mulheres no meu trabalho de divulgação e escambo. Acho que como apresentação e de uma fornada só o texto (esse) deve estar bom para começo.

Dê a sua opinião. Ah, estou com um livro de poemas pronto: "Opúsculo de Amor e Obscenidades", está descansando agora mas, estava trabalhando num romance chamado: "Homens de Sal"; escrevo um diário, já mencionado: "Fescenino - Diário do Sexo", trabalho em alguns roteiros para teatro e cinema; produzo e realizo três workshop para divulgação de literatura, um dirigido a alunos do ensino fundamental e médio, outro para pessoas da terceira idade e outro para os pré vestibulandos em voltas com as dúvidas sobre redação e literatura.

Embora não receba, ainda, nenhuma subvenção, ajuda, apoio, patrocínio, de nenhuma instituição de origem pública ou privada, sempre nos meus folhetos, recomendo que todos visitem Natal - a cidade onde tem sol 365 dias por ano. É uma viagem fantástica que vocês jamais esquecerão.
É só. Por enquanto.