segunda-feira, 29 de junho de 2009

O Corredor do Amor


Já ouvi falar de vários lugares onde se proclamam a terra do amor. Dizem que Paris é uma cidade que favorece este acontecimento. A torre Eiffel. A avenida Camps Eliseé. A avenida St Germain onde era possível encontrar Jean-Paul Sartre trocando carinhos apaixonados com a "sua" Simone de Beauvois dão o clima. Outros lembram do Rio de Janeiro com suas praias e ruas celebrizadas pelas estórias de amor das novelas.

As praias ou as cidades praianas no sul de Santa Catarina, principalmente no verão, se é que no verão dá pra se dar ênfase ao amor. Para os bons apreciadores dos romances amorosos o melhor momento para o amor é o inverno com chuvas. O tempo nublado e a névoa fazendo parte do cenário. Como dizia, as praias do sul catarinense ou as do nordeste do país são super cogitadas para uma estadia pelos casais apaixonados.

Há anos passados o bloco Olodum da Bahia depositou todas as honras a ilha de Madagascar, dando vivas a afrodisíaca ilha do amor. Isso pra quem pode. Virando os olhos para a África, lembro-me do Fernando I, "o rei destronado do Brasil" e agora colocado de volta no Congresso Nacional, que se aconchegou com a sua cara-metade de plantão, a Rosane, assim que foi eleito, nas ilhas Seicheles, um verdadeiro paraíso para o amor.

Tudo isso são viagens. Como observador dos costumes e da tradição do povo gaúcho, fico aqui em Porto Alegre. Fico mais precisamente na Rua da Praia. Essa rua é o grande guarda-chuva ou guarda-sombra para os dias de verão intenso. Considero a rua mais querida ou mais lembrada dos porto alegrenses. É o corredor do amor. Amor para todos os tipos. Todas as necessidades. Todos os gostos. Amor para chamego. Amor para as ninfetas. Amor para as mariposas dos dias e das noites. Amor à moda antiga. E por aí vai. É muito comum ver casais de namorados caminhando por essa via. As vezes saboreando um churrasquinho daqueles assados ali no carrinho da esquina. Degustando um churro, não sei porquê um hábito quase que unicamente feminino. Tomando um sorvete ou sentados às mesas que se proliferam a partir da praça da Alfândega em direção a prainha do Gasômetro.

As salas de cinema e/ou de teatro da Casa de Cultura Mário Quintana por sua seleção primorosa e diferenciada de filmes e peças atraem os jovens enamorados e muitos daqueles que fazem profissão de fé que o amor não tem idade. Um dia desses fui lá numa dessas salas assistir um dos filmes mais recentes do diretor italiano Bernardo Bertolucci: "Os Sonhadores" e... por um motivo qualquer, acenderam as luzes. Percebi que era o único solitário naquele recinto. Não me incomodei com tal situação: fui lá para conhecer um dos mais recentes trabalhos do mestre e apenas observei o detalhe.

O filme mostra o amor entre dois rapazes e uma garota. O cantado e decantado triângulo amoroso. Achei-o bom. Na saída dos casais, e como nós que escrevemos somos extremos observadores, parei os olhos na capa de um livro que uma das moças, que também estava acompanhada, transportava sob o braço. O título é: "Amestrando Orgasmos". Confesso que não li o tal escrito do jornalista Rui Castro. O transporte do mesmo ali na porta me confirma o título dessa crônica. Algo assim que poderia ser substituído por: "manual prático do amor". Espero que o tal livro tenha algo importante para ensinar e que o casal realmente aprenda.

No dia dos namorados agora passado as salas de cinemas programaram, dentre outros, dois filmes, um italiano e outro chinês. Ambos tinham amor no título e conseqüentemente no enredo. Da Itália veio: "Manual do Amor" e da China: "2046, Os Segredos do Amor. A "escalação" desses filmes são semelhantes a complementos alimentares. O objetivo é reforçar o amor. Ultimamente está programado para breve, um filme romântico: "A Casa do Lago". Este filme é americano com os atores Keanu Reeves e Sandra Bullock nos principais papéis. Como carro chefe da divulgação e marketing eles escolheram a frase: "É possível amar alguém que você nunca viu?". Acredito que muitos transeuntes dessa linda rua tem uma resposta afirmativa.

Tive meus dias de glória ou de sorte quando a Leo atravessou o país para vir me ver. A jovem quadragenária e eu passeamos muito, como não poderia deixar de ser, ali pela Rua da Praia. Era a nossa via principal que adorava. Por opção de nossa moradia provisória e a orla do Guaíba passávamos sempre por ali. De vez em quando entrávamos no centro de compras. Vez por outra parávamos num daqueles restaurantes para o nosso bom carreteiro de charque regado a um vinho serrano, e a vida caminhava.

Foi numa das salas de cinema da Mário Quintana que assistimos: "As Garotas do Calendário" filme esse que inspirou as gaúchas qüinquagénárias a participarem da folhinha tupiniquim: "Gurias do Calendário" em dezembro de 2005. Com meus olhos de observador tenho constatado muitos casais que já passaram dos sessenta trocando carinhos ali naquela via. Há sim um incentivo ao desejo, a troca de afeto. O caminhar indolente dos fins de semana nas calçadas desobstruídas. A velocidade calma dos automóveis que circulam faz com que o carinho renasça no coração dos transeuntes. Há uma gama enorme de seres felizes na Rua da Praia. Está estampada no rosto as horas de alegria pelas quais passaram ou estão passando.

Mesmo para os solitários, há as lojinhas com computadores para contato direto nos sítios de relacionamento quando conseguem escapar das seguidoras da deusa afrodite da praça da Alfândega. Lá na saída para a avenida Independência há sobrados com fotos coloridas nas escadas, como se fossem gravuras de atrizes de cinema. Lá as moçoilas reforçam o título de corredor do amor da rua mais famosa dos porto alegrenses. Quem for lá juízo para não tecer esse comentário porque a taxa periga subir.

Foi nessa rua que Luciano que veio lá de São Francisco de Borja conheceu Ana Rita que havia chegado a poucos de Vacaria. O casal se conheceu, namorou, noivou, passeando ali no corredor do amor. Se casaram e foram morar em Canoas. Um dia, depois de anos juntos voltaram a rua e na fila do cinema: Ana neste dia encontrou Carlos, o jovem a quem havia prometido amor eterno quando morava no sítio na serra. Junto com ele, por coincidência, estava Luana, jovem essa que havia sido a paixão da infância de Luciano lá na região das missões.

Os casais no dia, ou na noite, trocaram o cinema por um bom papo a quatro cabeças. Havia muito o que conversar. E como havia. O cenário foi uma lancheria ali pertinho. O lanches no prato esfriando, o refrigerante esquentando e a conversa era o principal ítem do cardápio dos quatro. Hoje os quatro são vizinhos em Canoas. São testemunhas um do outro nos registros civis dos filhos que crescem juntos e estudam na mesma escola. De vez em quando vêm a Rua da Praia, matar as saudades do dia do reencontro e celebrar a vida que hoje levam. Pelo que se percebe, ninguém consegue passar imune pela Rua da Praia. Ninguém escapa dos fascinantes encantos de Afrodite e/ou Vênus. Que Oxum, Dandalunda proteja os amantes. Viva o amor.

GERALDO POTIGUAR DO NASCIMENTO/2006

3 comentários:

  1. A terra do amor é onde nós quisermos! Se temos este sentimento plantado dentro de nós, podemos espalhar por onde andarmos, se asim o fizermos estaremos sempre em uma terra do amor.Os nossos corações é na verdade esta TERRA.

    Beijos,

    ResponderExcluir
  2. Vc escreve muite bem,Já pensou em editar os seus textos?

    ResponderExcluir