quinta-feira, 22 de março de 2012

Convescote a Gaúcha ou Convescote na Rua da Praia

Porto Alegre é uma cidade linda. Cidade lambida do oeste ao sul pela baía do Guaíba. Salve o por do sol desse lago, uma das grandes belezas do mundo. Um por do sol retratado em fotos, versos, poesias, crônicas e outras. A cidade cresceu. Cresceu e se desenvolveu. O mais importante de tudo isso é que apesar de ter aberto as asas para o progresso a cidade não perdeu aquele ar provinciano. Muitos vêm do interior, de outros estados e de outros países com muita vontade de crescer. Com ela vêm os sonhos, os desejos de sucesso, mas não abrem mão dos valores, dos costumes familiares e hábitos da infância.

A rua da praia é um celeiro de vozes. De inspiração. De desejos. Todos têm direitos a essa famosa rua: o comercio, principalmente após a General Câmara (antiga Rua da Ladeira), acompanhando a antiga Rua da Graça incorporada que foi a Rua dos Andradas, rumo ao bairro de Moinhos de Vento. Há a Praça da Alfândega com tudo que há de diversidade. É nessa praça que meninos e meninas se encontram e principalmente adultos para a partir daí traçarem seus planos de sobrevivência. Uns rompem a madrugada em busca de um ou trabalhando no do dia seguinte.

Seguindo em direção ao rio ou a baía do Guaíba, do fim para o início da rua, chegamos a região militar. Em homenagem aos militares está ali, bem próximo, a Praça Brigadeiro Sampaio com suas quadras poliesportivas, brinquedos para crianças como: balanços, escorregadores, e outros; telefones públicos, cestas de lixo para os conscientes não sujarem as vias publicas, mini mercado (do outro lado da rua), espaços longos e amplos sob os pés de araucária e eucalipto onde muitos moradores das redondezas passeiam com suas crianças e/ou com seus cães.

Foi nessa praça que conheci seu Manoel. Diz ele ser um legítimo representante dos primeiros moradores da cidade. Manoel Gracia Lopes como faz questão de se apresentar. Com a mesma pomposidade nos apresenta dona Domi. Assim para os íntimos, ele diz. O nome de sua esposa é: Domitilla Figueiredo Lopes, segundo ele, descendente direta do brigadeiro José Marcelino de Figueiredo fundador da cidade de Porto de São Francisco dos Casais, hoje Porto Alegre.

Este senhor é um homem tranqüilo. Nasceu e sempre morou na Rua da Praia. Aos domingos e feriados reúne a família que é possível reunir para um belo convescote. A diferença fundamental é que sempre fazem parte desse encontro: um bom churrasco de costela de boi gordo, chimarrão e vinho.
Quando está frio ou quando dá na telha está lá ele e sua inseparável esposa completamente pilchados: ele sem esquecer nem o chapéu de barbicacho e ela a sua flor vermelha no cabelo. Apressado ou no verão, o bermudão, o tênis e o avental de churrasqueiro é sua indumentária. Roupinha coloquial é a da esposa.

Trovador como ele só. Adora uma boa trova desde que tenha platéia. Grande ou pequena, não importa. Esse homem adora falar principalmente sobre as vitórias dos gaúchos: a batalha do chaco; a entrada dos açorianos nessas terras do sul que relata como se tivesse também participado; a revolução farroupilha e o levante federalista onde, pela sua índole, teria lutado. Chimango ou maragato, não importa. Estaria lá pela honra e glória do seu Rio Grande.

A violência acha coisa da modernidade que ainda não lhe fez mudar de hábitos. Preocupa-se mais com a caçula. Homem de vida dura, militar da reserva, familiarizado com a vida na caserna, domador de cavalo xucro quando prestava serviço na cavalaria não consegue domar a Fatinha. Maria de Fátima Figueiredo Lopes tem 18 anos. Muito bonita. Segundo ele, linda como a avó. Queria que fosse professora como a mãe dele, mas teve que aceitar a mudança da guria do curso de ensinamentos pedagógicos para o de artes cênicas. Essa coisa de teatro e cinema. Teimosia da juventude.
Reclama das tatuagens que a sua eterna piazinha cisma de fazer em lugares que na sua esposa considera sagrados e principalmente da novidade: o brinco prateado que atravessou na língua.

Na festa de 18 anos Fatinha apresentou o João Fernandes que seu pai só gostou do nome. O rapaz também é descendente legítimo dos primeiros açorianos e seria grande e vistoso. Um belo gajo se se vestisse bem à moda de Portugal ou classicamente do Brasil coisa assim considerada normal. No entanto o candidato a genro se veste com calças rasgadas, desfiadas, às vezes manchadas de tinta, parecendo trapos. Têm no corpo várias tatuagens e vários brincos. Se diz cantor. Com a namorada e amigos tem uma banda. Todos com o perfil parecido. Um belo dia, a convite dos dois, saiu do seu apartamento, arrastando a esposa, para assistir a um show do grupo deles. Os dois não entenderam nada das letras das músicas e quase se afogaram na fumaça que, pelo que imaginam, fazia parte do show. O que consideram a parte boa da noite é que curaram as dores nas cabeças entre vaneras, vanerões e chulas num bailão ali perto.

Seu Manoel tenta entender os jovens. Lembra do seu tempo e... apesar de tudo espera o casório para breve. Uma grande festa será realizada, pois foi assim que seu pai lhe ensinou que se faz casamento de filha. Dessa parte não abre mão. Sonha com netos. Muitos netos para aumentar a alegria nos convescotes da Praça Brigadeiro Sampaio. Se os brincos deixarem.

Geraldo Potiguar do Nascimento
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