terça-feira, 23 de junho de 2009

Chamego Gaúcho

A minha admiração pela “rua da praia” existe há muito. Eu sei que ela não existe já que mudaram o seu nome, mas eu admiro. Usando a minha sinceridade, a minha admiração por essa rua vem de antes de conhece-la. Pelo que me falavam e... Principalmente pela esquina democrática.Em Porto Alegre virei um maior admirador, curtidor, amante e pesquisador dessa famosa rua. Subo e desço a rua mais famosa dos gaúchos ou dos porto alegrenses quase todos os dias. De vez em quando, como ninguém é de ferro e como eu também não sou, para me livrar do cansaço, sento um pouco.

Fico ali, sentado, observando o movimento, pesquisando...e sonhando. Sonhar. Sonhar é bom. Sonhar é muito bom. Sonhar é um direito do ser humano. Não sei se na “declaraçãouniversal dos direitos humanos” tem algum artigo que defende os sonhos. Tenho certeza. Uma certeza quase visceral que o sonho é um direito.É ali na Praça da Alfândega, defronte ao Clube do Comércio, do cinema, da lancheria e do shopping que uso um dos bancos de madeira que decoram a praça e sugere, para sonhar.

Sonho com um chamego. Um romance. Daqueles tórridos. Envolvimento total: corpo, alma, coração, até perder o fôlego. Morro de inveja dos casais reais ou fictícios: Donald e Margarida, Mickey e Minie, Eduardo e Mônica, Giuzeppe Garibaldi e Anita, Lampião e Maria Bonita, Nacib e Gabriela, Pedro e Domitila, Peri e Ceci, Prestes e Olga, Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, Lula e Marisa e tantos outros.

Foi numa dessas tardes. Era uma quarta feira. Podia ser outro dia qualquer, mas era quarta feira. Absorto em meus pensamentos demorei a perceber que dois olhos castanhos escuros me observavam. Do outro lado dobanco. A bela chinoca tinha uns vinte e uns. Um sorriso, um piscar de olhos, um convite: alguns segundos após a Valderez estava lá sentadinha do meu lado. No movimento conferi os seus um metro e sessenta mais ou menos, em torno de cinqüenta quilos, pouco busto, belas coxas, cabelos castanhos escuros, uma pele naturalmente bronzeada e um lindo rosto.

Era bela. Era uma bela guria.Conversamos um pouco. Estranhei a dificuldade dela entender que sou do Rio Grande do Norte e não do Ceará. Que o estado onde eu nasci não tem nada a ver com o Piauí a não ser o fato de pertencerem à mesma região. Coisa da distância. Da geografia. Caminhamos. Alcançamos o mercado municipal. Tomamos um suco: Ela, de abacaxi; eu, de laranja enquanto ouvíamos, ao vivo, belas canções. Ousei. Pedi uma fatia generosa de torta de morango. Ela recusou: está de dieta observada. Para manter o peso, foi o que me disse.

Ia embora. Tinha que ser com brevidade. Alegou filho e casa pra cuidar. Beijos no rosto. Um convite e o endereço: no domingo tem um galeto lá em casa. Não perca. Leva umas cervas e tudo bem. Depois do meio dia. Era o começo. O sonho começava a se materializar. Na volta para casa eu era o mais feliz. Cantarolava uma canção romântica. Uma daquelas imortalizada pelo rei e tão bem interpretada naquela voz suave do artista do mercado. Os cantos da boca se erguiam para cima. Eram só risos. Era eterna a minha felicidade.

Foram quatro noites de sonhos. Fomos árabes, ela de burca e tudo, oferecendo para mim a dança dos sete véus; fomos príncipe e princesa com carruagem e cavalos alados; fomos heróis vitoriosos. Viajamos no trem azul da África do Sul, o Orient Spress, jantamos a luz de velas com direito a quarteto de violinos e músicas românticas, e outros. Aqueles quatro dias foram os mais longos de minha vida. Era verão.

No sábado, Lúcia, a cabeleireira, cuidou do visual. Ana, a manicure/pedicure cuidou das mãos e dos pés. Na perfumaria, adquiri um xampu de sândalos patchouli. Sempre me disseram que é bom. O creme hidratante, levemente perfumado seria usado no corpo inteiro. Busquei no fundo do armário aquele perfume comprado num momento de loucura e só usado em ocasiões especiais. Lá esta eu. Era um paxá. Me sentia “um Adonis”. O próprio.

A vida era só nós dois. No guardanapo do bar ela me escreveu: Vila Passo das Pedras II. Descobri que onde ela mora, os vizinhos chamam de VilaMetralhadora. E eu com isso? Eu só quero é ser feliz. Eu só quero, junto com a minha amada, fazer história. O sol descendo. A prenda do meu lado oferecendo beijos, abraços e apalpações. Numa mão, o copo decerveja geladinha. Na outra, um peito do galeto. O samba romântico da Lecy Brandão era nossa trilhamusical. O mundo! O mundo era apenas nós. Eu era um guri no dia do seu aniversário.

Surge no portão um jovem: alto, corpo negro com pinta de lutador de boxe. Não me exijam detalhes. Estávamos a Val e eu nos aconchegos. Nos entendendo. A chinoca pula de meu colo e grita: _Meu marido! Vi na minha frente aquele homem “de cinco metros de altura por outros tantos de largura”. Não tive tempo pra pensar. Apelei pros ensinamentos de Mestre Bimba e nem olhei para trás pra ver se o mancebo se levantou. Num só fôlego, alcancei as duas pistas. Entrei no primeiro ônibus que parou ali. Na Avenida Farrapos, quase no meio da viagem, descobri que trouxe o copo de massa de tomate da Valderez. Aproveito essa pra dizer que um dia eu volto pra devolver. Talvez.


Geraldo Potiguar do Nascimento nasceu em Natal, RN, em 1954. Escreve desde os 10 anos. Têm “no prelo” os livros: “Opúsculo de Amor e Obscenidades” (poemas); “Fescenino” (diário sexual); “Homens de Sal” (romance) e outros livros (peças de teatro, roteiros para cinema e televisão mais romances). Potiguar realiza wokshops para “divulgação de literatura”: um dirigido aos alunos do ensino fundamental e médio, outro para membros do "grupo da terceira idade" e outro de redação para pré-vestibulandos.

Estou no ORKUT, no Hi5, no Sonico, no FACEBOX, no Badoo e outros ...leia mais no google.
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