segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Silêncio

A Elônia

O Silêncio é algo dúbio
para uns
pode ser o fim
outros pensam na reflexão.
Não quero falar nesse assunto:
diriam alguns
quero mas não consegui
coragem o suficiente
Silêncio pode até não ser
mas gera sofrimento
embora muitos digam que é paz.
Há os que preferem uma
vida de paz
de silêncio
outros preferem o agito
dos acontecimentos
mesmo que não sejam
muito silenciosos
Silêncio é espera
é solidão
é dúvida
momentos de ânsia
sonhos do futuro.
Ah o silêncio!
Esse gigante que nos penetra
e vai aos poucos
nos consumindo.
É preferível o contraponto
a antítese
a discórdia.
No silêncio não se ouve
o murmúrio das águas
o mais doce acalanto
dos enamorados.
Silêncio é fúnebre
sepulcral
estressante
tristeza de perda
fim dos sonhos
triste fim para os ávidos de desejo.
Ah o silêncio!
Silêncio é o fim!


Geraldo Potiguar do Nascimento
Porto Alegre, 26.06.05.

Tri, poli, multi

“...Ter uma só cara é estar nu
em casa/ ou no jardim...”
Tomé Varela da Silva


Fujo da monotonia
assistindo as caras
o manual africano
me deu as letras
de suportar o mundo
o verdadeiro néctar
vem da fonte..
O mundo que dizem poli
é copia mal feita
desse manual
multidimensional.
A água do mar trás recados
de Yemanjá
Oxum
a deusa do ouro
e da fecundação
é a mestra.
A música é de qualidade
as épulas e as alcovas
são sublimes
sim
sou multi
multidimensional
fugindo da monotonia.


Geraldo Potiguar do Nascimento
São Paulo, 18.05

Filho de Goiamum

“...Nada te devo
Portugal colonial...”
David Mestre

A meu pai
nada devo
esse caucasiano
que ajudou
a conceber-me.
Quando nasci
descobri casa
e causa negra
que suguei
nos seios
da negra mãe.
Sonhei afagos
beijos, talvez
nunca acontecidos
desse homem
que ajudou
a conceber-me.
A paz
a causa e a casa negra
as iyás que me guiaram
me tornaram crente
cético com a vida
delas ganhei
a pretensão do eterno
e dos outros o título:
filho de goiamum.


Geraldo Potiguar do Nascimento
São Paulo, 16.05.08.

Preta de Pixe

“...e ao toque dos lábios do príncipe, os olhos dela se abriram...”
do livro: Branca de Neve e os Sete Anões.


Foi lá que nossos olhares se tocaram
sete de julho nas escadarias
outras fadas ou bruxas me rodearam
conheci geografias e anatomias
terras firmes, belas e férteis.
O teatro sempre foi a vida
o sono foi pulado
a escola foi a ocupação
o trabalho a mantinha viva.
No segundo tempo demos as mãos
a maçã era de chocolate
e com novo formato.
Conhecemos nossos corpos
cafunés malandros entre as carapinhas
supriram nossas carências.
Alegria, batuque, parati e balangandãs
supriram nossa festa de união
o mungunzá nos nutriu
no chamego me fiz às.
Vivemos felizes
O barco flutuando
Os filhos crescem
Enquanto escrevo
O “para sempre” dela
É no serviço público
Até a aposentadoria.


Geraldo Potiguar do Nascimento
São Paulo, 14.05.08.

Negrinhos em Evolução

A Addae, Damali, Haile e Makini


Os filhos são para a alegria
são para o mundo
antes os sonhos
no real eles crescem
em primeiro plano nos emocionam
as lágrimas lavam o rosto
o coração dispara.
Em segundo plano
buscam a ciência
é lá que desafiamos
os carentes e saudosos
de Gobineau.
As festas estão na moda
o gen construiu cabeças
as transformações serão históricas
os negros novos percebem e curam
as cicatrizes que povoam
os corpos e as mentes.
Que vivam os negrinhos
e as negrinhas
nossos eternos erês.

Geraldo Potiguar do Nascimento
São Paulo, 12.05.08.

Amemos Nus

“... Me liberto do complexo dos conservadores/
adormeço em teus odores/
libido/
perfume e os gemidos/
quase perco os sentidos...”
Akins Kinte


Sua sensualidade me atiçou os olhos
liberou meu senso crítico:
é uma princesa.
Seu andar me fez voar pelos sonhos
de olhos abertos vou ao descontrole
do corpo e da mente.
Sua estrutura é aquela que esteve sempre
nas minhas aspirações
às vezes
nas inspirações
e transpirações.
Neste leito negra
somos apenas um casal
príncipe e princesa em desencantamento
e não lhe condeno
por profanar meu corpo.
Amemos nus.

Geraldo Potiguar do Nascimento
São Paulo, 10.05.08.

Atitudes

A Matilde Ribeiro

“... mas a fome”.
será o menino
correndo roto
no alcatrão
dando vida
ao aro do barril...”
Helder Proença


Ouvi o Hugo Ferreira
sobre a fome no Brasil
e no mundo
na década de setenta.
Há democracia
faces negras nas estruturas.
Hoje estamos
no andar intermediário
buscando o superior.
Lá nos lixões
o povo negro
como Carolina e eu
buscam o alimento
da vida.
Os fedelhos negros
sobem nos monturos
e mesmo neste cimo
não alcançam a escola.
Estamos na megalópole
tudo é paz
no sul maravilha.
Em terras potiguares
apesar das mangas e cajus
ou no Piauí
apesar das uvas
existe a fome.
Rostos cinzas
dos pimpolhos
com sujeira nos pixains
mesmo sem saber
enquanto fogem das escolas
em busca da vida
rolando pneus
esperam de nós
atitudes.

Geraldo Potiguar do Nascimento
São Paulo, 08.05.08.

Ciência, Revolução e Arte

Aos membros do Movimento Negro de Arte e a todos os artistas reconhecidos ou não.


“A felicidade do negro é uma felicidade guerreira...”
Gilberto Gil.


Toco berimbau
instrumento de uma corda só
cavaquinho
cítara
violão
viola
guitarra
harpa
são meus dons.
Crio loas
jogo capoeira
no piano sou o bom
unindo a voz e a sonoridade
canto samba
jongo
calango
óperas
sou também do improviso
estilo livre
sou rei do rock
reggae
do rytim and blues
do forró
do funk
do rap
do futebol
................
Em terras brasileiras
dei conta de amos
e capitães do mato
fui Palmares
Jabaquara
e muito mais
Com farroupilhas
lanceiros negros
como prêmio
assassinato coletivo
aves
campos
florestas
testemunhas vivas
do Massacre dos Porongos.
Estou na olimpíada
da matemática
orgânico sem deixar
de ser racional.
Em Angola
Moçambique
São Tomé e Príncipe
Cabo Verde
fui guerreiro
Liberdade !!!
Hoje na reconstrução.
Canto e danço e vadio
Com classe.
Na luta
a dança, o canto, a vadiação
são atos de amor.

Geraldo Potiguar do Nascimento
São Paulo, 05.05.08.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Mãe África

“... as nossas raízes nasceram longe/
muito longe/
antes da primeira caravela ...”
Albino Magaia

Abra o mapa
Veja a África
é daí que venho
foi daí que veio
o sangue que corre
em minhas veias.
Olhe o mapa
atentamente
foi aqui
bem aqui
que surgiu
o primeiro ser humano.
Reproduzimos
povoamos o mundo
alcançamos todos os continentes
ocupamos os espaços
que após eras
foram assaltados
pelos invasores.
Veja o mapa
veja a África
ela é mãe
minha mãe
sua mãe
nossa mãe.

Geraldo Potiguar do Nascimento
São Paulo, 01.05.08.

Agô

Ao Pai Lilico da Osun

“folga negro
branco não vem cá
se vier
pau há de levar
folga negro
branco não vem cá
se vier
negro há de matar”
(Canto entoado no fuzuê das senzalas após o dia de trabalho).



Batam palmas
essa é a nossa festa
a porta perdeu a tramela
a épula está posta
a calma reina
eu permito.
O olho caminha pelos espaços
o suor me toma a testa
o brilho me encanta
suo entre os pixains.
Os beiços demonstram a sensualidade
milho
Amendoim
feijão
bife
pimenta
esse é o meu banquete.
Que venham as quilombelas
e os quilombolas
quero a luz dos candeeiros.
Quero chamego
larguei lança e rebenque
atrás da porta.
Eh mulher negra
deusa de ébano
companheira de lutas
alcovas e jardins
na grandeza do aiyê.
Vem, me dá um cheiro no cangote
vamos medir nossos beiços
amemos sem limite
a posteridade espera nossa atitude.
A luta é negra
o ogó é o caminho
essa canha aumenta o meu prazer
deixa meu olho esperto
pelos espaços.
Essa pau-a-pique
é pouco para nós
nada nos prende
o aiyê é nosso
somos o aiyê
lalupô.

Geraldo Potiguar do Nascimento
São Paulo, 22.03.08.

Sou o Amor

Que eu seja o amor
Que sana suas angústias
Que eu seja o amor
Que lhe trás a paz
Que eu seja o amor
Que interfere na sua felicidade
Que eu seja o amor
Com o qual tem sonhado
Que esse amor seja imenso
Que ocupe o seu universo
Que aquilo que tanto procuras
Seja eu
Esse amor.

Geraldo Potiguar do Nascimento
São Paulo, 02.04.08.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

De Braços Abertos

Doar é bom
Com alegria é contagiante
Ser bardo é algo que engrandece
Uma verdade
Substitui a outra
Enquanto o gesto
O carinho
O apego
Ajudam a dizer te amo.
Que lindos olhos
Acompanham minhas desculpas
O amor nasce
Ou até
A primeira teclada
A virtualidade vai ao coração.
Abre-o para receber
Até mesmo as armas
Os atos
As palavras
Que ferem.
O pensamento voa
E a fala é pausada
Para a compreensão.
Ah, a compreensão é mãe
De todos.
Imagens
Lindas imagens
Deixam nosso coração tranqüilo
Incentiva os sonhos
De olhos
E braços
Abertos.


Geraldo Potiguar do Nascimento
São Paulo, 10.03.2008.

Deusa de Além Mar

A quantas ondas eu vou
Nesse mar revolto
Louvar minha deusa
De além mar


Que o bandolim não desafine
Que a voz não me falte
Pra cantar minha deusa
De além mar


Que o corpo esteja quente
Que os braços sejam longos
Para aconchegar minha deusa
De além mar.


Que os desejos sejam firmes
Que a boca esteja ávida
Para oscular minha deusa
De além mar.


Que a vida seja longa
Que o amor seja eterno
Pra ser feliz com minha deusa
De além amar.


Geraldo Potiguar do Nascimento
Porto Alegre, 01.06.2007.

Rosas para Você

Rosas vermelhas
Receba-as
Foi um pedido
Do meu coração.


A mensagem enviada
Era um código
De amor
Meu cérebro não decifrou
Apenas sentiu.


Nessas rosas
Vermelhas como o coração
Da cor do amor
Está a mensagem
Que você lê
Nos meus olhos
Receba-as.




Geraldo Potiguar do Nascimento
São Paulo, 22.05.2008

Encanto

Quero um poema
romântico
de amor.


Um poema pra dizer
que a sua amizade
me faz bem.


Que sou um ser humano
e como todos
ou pelo menos
os normais
sou sensível
como um gato
onde me dão carinho
ali fico.


Quero um poema
pra dizer
que amizade virtual
é muito bom
mas a realidade
é que faz o coração
bater mais forte.


Quero um poema
pra dizer
que quero vibrar
ao seu toque
viver um pouco
dessa energia
que vem de você.
deixar crescer
tudo aquilo
que damos vazão
em nossos sentimentos.


Que exploda
a nossa felicidade
transformando-se em gotinhas
e que cada gotinha
ao cair sobre outro ser
produza no mesmo
o encanto da felicidade.


Quero um poema
pra dizer
que sou feliz
por você existir
e ser minha amiga.


Geraldo Potiguar do Nascimento
São Paulo, 14.05.08.

100 palavras.

Felicidade


Mora longe. Do outro lado da cidade. Dorme no ônibus sempre à tarde. A noite tem compromissos. Sérios. É a sobrevivência. Quando todos ou a maioria caminha de volta para casa, ela vai trabalhar. Trabalha com prazer. Satisfaz aos parceiros. Cuida da vida. Bem. Dela e do filho que o pai abandonou. A casa é nobre e bela. A causa também. A profissão é antiga. Dizem a mais idosa. Se cuida. Preserva-se. Ama. Ama essa vida embora normalmente seja solitária. As segundas, dia de folga, passeia com o filho. Janta fora em ambiente modesto, mas com qualidade. É feliz.


100 palavras foi uma promoção da Revista da Folha www.folha.com.br/revista
revista@folha.com.br através da Editora: Lulie Macedo. Eu não participei, mas fiz um exercício caseiro aproveitando o mote.

Artigos da Mala

Um dia acreditei
que você queria
que me fosse
sumisse de sua vida.
Lá estavam os sonhos
hoje após esses anos
olho nos seus olhos
e reconheço
guardo na mala
arrependimentos.


Geraldo Potiguar do Nascimento
São Paulo, 14.07.07.

Viver

Ao Beto
(Humberto Pinheiro um grande amigo ator, poeta, dramaturgo, produtor teatral, desaparecido desse mundo por causa das drogas)


Riscar as paredes da vida
faz parte do todo
dia-a-dia marcando
o compasso das horas
rupestre
busco o futuro
meu bisão é ouro
é tri.


Riscar as paredes da vida
faz parte do sonho
dia-a-dia tramando
as realizações
breve virão
serão belas
como o frio no inverno.


Riscar as paredes da vida
é ser feliz
ou saudoso
do tempo do amor que passou
como um sonho
o som dos pássaros
minha trilha.


Riscar as paredes
é existir
resistir
Viver.


Geraldo Potiguar do Nascimento
Porto Alegre, 24.07.05.

Pífia Liberdade

A liberdade que me deste
parece vitória
pífia
os campos
os vales
as montanhas
estão cheios.
De saudades morro a cada dia.
As flores crescem
na ausência do floricultor.
A intransigência turva
a luz é para todos.
A liberdade que buscava
era meio
o futuro é a união.
Floricultores
nós e as flores
e os frutos
num único banquete
com liberdade.


Geraldo Potiguar do Nascimento
São Paulo, 06.10.07

A Volta

(“Sou como soca de cana: não adianta me cortar
que nasço de novo”. – de um poeta nordestino cujo
nome não me lembro)


Vou a Natal
após 25 de dezembro.
Nada levo na bagagem
assim como não espero
encontrar nada
nem ninguém
a minha espera.


Vou a Natal
já sinto o cansaço antecipado
das muitas andanças
pelas ruas que passei
quando guri.


Vou a Natal
cheio de saudades...
ou seria ansiedade?
Será que ainda é possível
caminhar as madrugadas nas praias?


Vou a Natal
A saudade que sinto
não é do passado
é do hoje
é da vida.


Vou a Natal
marcar minha vivência
no diário
a família
em grande porcentagem
posta sob a terra.


Vou a Natal
buscar esperanças
na cidade
rever a árvore
que plantaram
em minha homenagem
em fronduzura.


Vou a Natal
sonhando convites
vivas e comemorações
sede para ceder
as tentativas de ficar.


Geraldo Potiguar do Nascimento
Porto Alegre, 11.11.05.